Drummond certa feita disse: “Se você procurar bem, você acaba encontrando não a explicação (duvidosa) da vida, mas a poesia (inexplicável) da vida”. O poeta estava certo, por mais que tentemos, procuremos, tornemos a procurar, não adianta, não há como encontrar explicação para a vida em sua totalidade. Ela é muito complexa e cheia de nuances, de modo que é impossível compreendê-la perfeitamente, sobretudo, em função da sua dimensão trágica. Esta se encontra na morte. E não há como escapar dessa angústia, muita embora, ela não seja capaz de nos afastar desse cálice.
Um amigo, que passou por uma experiência de quase morte, confessou-me que no momento em que sentia que a morte o espreitava, toda a sua vida passara em um piscar de olhos. Todos seus amores, seus sonhos, seus fracassos, seus desejos mais subterrâneos. E, diante disso, sentiu-se completamente só e impotente. Não existia céu, nem inferno. Apenas uma solidão que ecoava dentro do seu corpo e gritava em sua mente. Gritava e dizia que a sua vida acabaria ali, do mesmo modo que começou, em um completo silêncio, em um completo vazio. Sem ninguém para abraçá-lo, ainda que quisesse – mais do que em qualquer momento da sua vida – repetir que fosse por um segundo, o amor que tivera por ela. Mas estava só e essa solidão flertava com seu espírito, e ele sentia que não possuía força para resistir.
Após o ocorrido, ele completou dizendo que essa angústia era sufocante e questionou-me de que adianta a vida e tudo que lutamos, conquistamos, amamos, se um dia, sem hora marcada, sem explicação, ela acaba? Então, retomei para ele e prosseguirei para vocês, o versinho de Drummond do início do texto. Ou seja, a vida não possui explicação na sua dimensão trágica e somos incapazes de ter uma compreensão ou entendimento maior sobre ela. Sendo assim, resta-nos aquilo sobre o qual temos controle: o caminho que fazemos. E neste podemos encontrar (e devemos) a “poesia inexplicável da vida”.
Entretanto, não adianta procurar nas grandiosidades. Temos que procurar com olhos de menino, fazendo descobertas, esmiuçando as miudezas e as pequenezas do cotidiano, pois são nesses lugares que a poesia da vida se esconde. E também não existe fórmula. Cada um tem que criar o seu próprio método, descobrir o seu próprio ritmo, encontrar a sua própria poesia, transver o seu próprio mundo.
A vida pode não ser explicada, mas pode ser poetizada, pois como lembra Ferreira Gullar: “Sei que a vida vale a pena mesmo que o pão seja caro e a liberdade pequena”. No entanto, a vida, o viver, não bate à nossa porta, é preciso sair e convidá-la para dançar. É preciso correr atrás do tempo, já que ele é só um menino danado querendo alguém para brincar.
Por mais que o fim seja triste, quando conseguimos encontrar a poesia inexplicável da vida, parece que o tempo se abre para nós em uma espécie de linha paralela, contendo o agora e o depois simultaneamente, como se fôssemos divinos e capazes de criar infinitudes dentro de instantes e continuidade mesmo no fim.
Quando percebemos que a morte é uma pedra no meio do caminho, percebemos que existe um caminho antes da pedra e que, portanto, é ele que importa, não a pedra. E, assim, nos damos conta de que podemos viver sem a explicação duvidosa, mas jamais sem sentir, mesmo que por um segundo, a inexplicável poesia que existe em cada segundo se soubermos procurar. Só quem entende isso é capaz de compreender que é possível ser eterno, mesmo sendo finito, porque, como disse, o tempo é só um menino danado querendo alguém para brincar.
Neste artigo, você confere um conteúdo informativo sobre quais raças de cães necessitam de mais…
Descubra como adotar práticas sustentáveis no seu negócio de forma econômica, com estratégias que equilibram…
Comer bem diariamente pode ser um desafio. Confira dicas de como se alimentar melhor, com…
Entenda como regular a temperatura do quarto das crianças no verão e garantir um sono…
Como escritor, costumo investir horas na elaboração de um conteúdo bem pesquisado. Sempre tento compartilhar…
O filme brasileiro Ainda Estou Aqui chegou aos cinemas no dia 7 de novembro e,…