Apparício Fernando de Brinkerhoff Torelly, também conhecido por Apporelly e pelo falso título de nobreza de Barão de Itararé, nasceu em 1895 (Rio Grande) e morreu em 1971 (Rio de Janeiro)
Jornalista, humorista, poeta. Aos dois anos de idade, após o suicídio da mãe, passa a viver na fazenda do avô, no Uruguai, retornando aos cuidados do pai cinco anos depois. De 1905 a 1911, estuda em São Leopoldo, em um colégio de jesuítas, onde, aos 13 anos, cria seu primeiro jornal, O Capim Seco, apreendido pelo padre reitor logo em sua primeira edição. Ingressa no curso de Farmácia, mas se transfere para o de Medicina, que não chega a concluir. Em 1916, publica, sob o pseudônimo Apporelly, Pontas de Cigarro, poemas versando sobre a falta de dinheiro.
Na mesma época, colabora para o diário Última Hora, além de trabalhar em jornais de diferentes cidades do interior gaúcho, como Bagé, Pelotas e São Borja. Transfere-se para o Rio de Janeiro em 1925, em busca de um clima mais quente que lhe amenizasse a hemiplegia (paralisia de um dos lados do corpo). Começa a trabalhar no jornal O Globo, e no fim do mesmo ano assina a coluna “Amanhã tem mais”, do recém-criado A Manhã. Deixa este jornal em 1926, fundando o satírico A Manha, que entre encerramentos e retomadas encontrará seus períodos mais criativos em 1926-1935 e 1945-1955.
Participa da fundação da Aliança Nacional Libertadora, em 1935, é preso e permanece por um ano e meio na prisão, tendo sido referido nas Memórias do Cárcere (1953), de Graciliano Ramos (1892 – 1953). Durante o Estado Novo (1937 – 1945), é preso sucessivas vezes, por períodos menos extensos.
Elege-se vereador do Rio de Janeiro pelo Partido Comunista do Brasil em 1947, lutando por causas como o voto para analfabetos e denunciando abusos como os cometidos contra índios. É cassado, com todos do partido, no ano seguinte. Com dificuldades para relançar A Manha, o que acontece em 1950, publica a primeira edição do Almanhaque em 1949 – outras duas sairão em 1955. Volta a colaborar para Última Hora neste mesmo ano e de 1956 a 1958 escreve para o quinzenal Paratodos, de Álvaro Moreyra (1888-1964). Viaja à China, a convite do governo chinês, em 1963, e no retorno, após o suicídio de sua segunda mulher, já não volta a trabalhar: dedica-se ao estudo da numerologia e das ciências biológicas aliadas à tecnologia, sobrevivendo com a pensão da Câmara dos Vereadores do Rio de Janeiro.
O Barão de Itararé, pioneiro no humorismo político brasileiro, deixou inúmeras frases antológicas para a nossa reflexão e contentamento.
1 – O que se leva desta vida é a vida que a gente leva.
2 – A criança diz o que faz, o velho diz o que fez e o idiota o que vai fazer.
3 – Os homens nascem iguais, mas no dia seguinte já são diferentes.
4 – Dizes-me com quem andas e eu te direi se vou contigo.
5 – A forca é o mais desagradável dos instrumentos de corda.
6 – Sábio é o homem que chega a ter consciência da sua ignorância.
7 – Não é triste mudar de ideias, triste é não ter ideias para mudar.
8 – Mantenha a cabeça fria, se quiser ideias frescas.
9 – O tambor faz muito barulho, mas é vazio por dentro.
10 – Genro é um homem casado com uma mulher cuja mãe se mete em tudo.
11 – Neurastenia é doença de gente rica. Pobre neurastênico é malcriado.
12 – De onde menos se espera, daí é que não sai nada.
13 – Quem empresta, adeus.
14 – Pobre, quando mete a mão no bolso, só tira os cinco dedos.
15 – O banco é uma instituição que empresta dinheiro à gente se a gente apresentar provas suficientes de que não precisa de dinheiro.
16 – Tudo seria fácil se não fossem as dificuldades.
17 – A televisão é a maior maravilha da ciência a serviço da imbecilidade humana.
18 – Este mundo é redondo, mas está ficando muito chato.
19 – Precisa-se de uma boa datilógrafa. Se for boa mesmo, não precisa ser datilógrafa.
20 – O fígado faz muito mal à bebida.
21 – O casamento é uma tragédia em dois atos: um civil e um religioso.
22 – A alma humana, como os bolsos da batina de padre, tem mistérios insondáveis.
23 – Eu Cavo, Tu Cavas, Ele Cava, Nós Cavamos, Vós Cavais, Eles Cavam. Não é bonito, nem rima, mas é profundo…
24 – Tudo é relativo: o tempo que dura um minuto depende de que lado da porta do banheiro você está.
25 – Nunca desista do seu sonho. Se acabou numa padaria, procure em outra!
27 – Devo tanto que, se eu chamar alguém de “meu bem”, o banco toma!
28 – Viva cada dia como se fosse o último. Um dia você acerta…
29 – Tempo é dinheiro. Paguemos, portanto, as nossas dívidas com o tempo.
30 – As duas cobras que estão no anel do médico significam que o médico cobra duas vezes, isto é, se cura, cobra, e se mata, cobra.
31 – O voto deve ser rigorosamente secreto. Só assim, afinal, o eleitor não terá vergonha de votar no seu candidato.
32 – Em todas as famílias há sempre um imbecil. É horrível, portanto, a situação do filho único.
33 – Negociata é um bom negócio para o qual não fomos convidados.
34 – Quem não muda de caminho é trem.
35 – A moral dos políticos é como elevador: sobe e desce. Mas em geral enguiça por falta de energia, ou então não funciona definitivamente, deixando desesperados os infelizes que confiam nele.
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