A omissão dos líderes e pastores contribui para agravar o problema
Pesquisa recente, feita pela Universidade Presbiteriana Mackenzie, aponta que ao menos 40% das mulheres que se dizem evangélicas sofrem violência doméstica. A maioria dessas mulheres não sofre esse tipo de situação por ser evangélica, mas o contrário é válido, quando se sabe que muitas delas já adentraram à religião carregando com elas esse tipo de problema, que muitas vezes é o motivo principal que a levou a se converter.
Tentar encontrar uma solução na conversão, em muitos casos, acarreta numa frustração gigante, visto que nem sempre é fácil convencer o marido a seguir a mesma fé. Dessa forma a situação permanece a mesma, embora daí para frente a vítima se sinta confortada pela ideia de que um “milagre” possa está sendo preparado e a transformação está por acontecer. Raramente acontece.
Nem sempre a fé, por si só, consegue realizar essa mudança e, ás vezes, ela acha mesmo que não, mas os líderes das congregações querem fazer-la acreditar que sim. Os pastores, na maioria, homens, sugerem orações como o principal recurso para resolver o problema.
“A violência do agressor é combatida pelo ‘poder’ da oração. As ‘fraquezas’ de seus maridos são entendidas como “investidas do demônio”, então a denúncia de seus companheiros agressores as leva a sentir culpa por, no seu modo de entender, estarem traindo seu pastor, sua igreja e o próprio Deus. Logo o que era um dever, o da denúncia para fazer uso de seu direito de não sofrer violência, passa a ser entendido como uma fraqueza, ou falta de fé na provisão e promessa divina desconversão-transformação de seu cônjuge.” — constata a pesquisa.
Diante desse quadro, a mulher se encontra mesmo sem perspectivas, tendo como opção apenas uma minguada esperança, que vai sendo reforçada pelos que poderiam ajudar-la.
O agressor, por sua vez, vai ter nesse ambiente religioso um bom refúgio, onde terá apoio e compreensão, visto que sua postura violenta não não é entendida necessariamente como partida do seu caráter, mas das ações perversas do “inimigo”, que tem como função primordial destruir a família cristã.
Oração apenas não vai ser a solução. Os pastores, por despreparo ou mesmo por não querer se envolver, despacham essas mulheres transferindo o problema para Deus, sugerindo que a vítima ore e aguarde o resultado, pois ele, Deus, vai fazer a sua obra.
Talvez o pastor despreparado não saiba que, se o conhecimento do problema chegou até ele, pode ser que já seja Deus obrando. Esperar que Deus aja apenas por “milagres” é mais que ingenuidade e despreparo, é algo ridículo. Seria mais honesto com a vítima (e até com Deus), se o líder assumisse que não possui preparo para dissuadir o agressor a não cometer mais essas coisas. Isso condiz mais com a postura de um líder que precisa dar exemplos. Porém, o fato de não se achar preparado, não significa que não possa e não deva fazer alguma coisa, como ajudar a mulher agredida na condução de uma denúncia às autoridades.
Seria uma inversão simples e justa: em vez da mulher orar e aguardar Deus fazer sua obra, e enquanto isso seguir sendo agredida, transfira para o agressor essa condição. E ele que ore e espere Deus obrar e tirá-lo da cadeia.
No Brasil, a lei Maria da Penha visa garantir a segurança das mulheres e punir os agressores. A lei fala sobre muitos tipos de violência: Psicológica, sexual, patrimonial e física.
A ONU considera a lei Maria da Penha uma das leis mais importantes de proteção às mulheres do mundo.
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