Não tem jeito, todo mundo ama Neil deGrasse Tyson. O astrofísico mais pop da galáxia nasceu no Bronx, em Nova York, nos Estados Unidos, e começou a se apaixonar por astronomia aos 9 anos, numa visita ao Planetário de Hayden, do qual se tornou diretor em 1996.
Formado em astrofísica pela Universidade Columbia, sua vida midiática decolaria após assinar sob o pseudônimo Merlin, entre 1995 e 2005, uma coluna mensal na revista Star Date em que tirava dúvidas dos leitores sobre o universo. Desde então ele foi parte de todas as comissões governamentais imagináveis, colecionou prêmios de divulgação científica e apresentou a indispensável série Cosmos: Uma Odisséia do Espaço-tempo — produzida por ninguém mais ninguém menos que a viúva de Carl Sagan e Seth MacFarlane, que você deve conhecer da animação boca-suja Family Guy. Será que suas definições de ousadia e alegria já foram atualizadas?
Assim como Sagan, Tyson busca tornar a ciência mais acessível ao público. Seguindo os ensinamentos dele, GALILEU separou nove reflexões para compreendê-lo melhor.
“Nós nos definimos como inteligentes. Isso é estranho, porque nós fizemos a definição. Nós criamos nossa própria definição e dissemos que éramos inteligentes!”
Neil vê nosso planeta do tamanho que ele é: minúsculo. E sabe que nós somos uma parte muito pequena de tudo que há por aí. “Nós precisamos chegar a um entendimento mais profundo sobre o nosso lugar na Terra, e esse é o tipo de coisa que se obtém de uma perspectiva cósmica”, afirmou em entrevista publicada na edição de janeiro de 2016 da GALILEU. Ou seja: não é uma boa ideia se usar de parâmetro para tudo quando conhecemos tão pouco.
“Eu gosto de saber onde estou, de onde eu vim e para onde eu vou. E essas respostas vêm do espaço.”
Neil adora uma boa e velha questão existencial, e acredita que estudar o universo é uma ótima maneira de respondê-las, como ficou comprovado por sua agora célebre resposta a um garoto que lhe perguntou qual era o sentido da vida.
“Quando eu penso em um “significado” para a vida, eu me pergunto: ‘será que eu aprendi algo hoje que me deixou um pouco mais perto de saber tudo que há para se saber no universo?’ Se eu não sei mais em um dia do que eu sabia no dia anterior, para mim esse foi um dia desperdiçado. (…) Então, essa não é uma questão eterna e sem resposta — ela está ao alcance das minhas mãos todos os dias. Eu sugiro que você, com seis anos, explore a natureza o máximo que puder.”
Tyson jamais afirmou ser algo além de um cientista, quando questionado sobre suas preferências religiosas. Ele já listou diversas vezes, porém, o que tem certeza absoluta de que não é.
“Toda descrição de um poder superior que eu já vi, de todas as religiões que eu conheci, inclui várias declarações em relação à benevolência desse poder. Quando eu olho o universo e todas as maneiras pelas quais ele quer nos matar, eu acho difícil conciliar isso com as afirmações de generosidade.”
Se ele nega ser adepto de religiões tradicionais, por um lado, por outro ele não gosta muito da ideia de ser “reivindicado” pelo pensamento ateu (nem por nenhum outro pensamento, diga-se de passagem).
“No momento em que alguém te atrela a um movimento, vão atribuir todo o repertório e a filosofia que estão por trás desse movimento a você. E se você tentar ter uma conversa, eles irão se assegurar de que já sabem tudo que há de importante para saber sobre você por causa dessa associação. Eu prefiro ter uma conversa do que colar uma etiqueta em alguém e ter certeza de qual será a próxima resposta.”
Ele só tem uma certeza: se, por um lado, cada um é um e devemos nos encarar como seres complexos em vez de colar etiquetas, por outro, convicções pessoais jamais podem se sobrepor a verdades objetivas, divergência que ele põe na base do terrorismo, por exemplo. Em suas palavras à GALILEU, “é claro que há política no meio, mas a maior parte do que motiva o terrorismo é uma disputa de crenças”.
Crenças à parte, para ele, ser racional não é ser duro. Segundo o astrofísico, há poucas coisas mais bonitas do que um bom princípio matemático levado ao extremo.
“O fato de que se você pegar um círculo de qualquer tamanho — até mesmo um círculo do tamanho do universo —, e dividi-lo por seu raio você chegará ao número π (3,141592…) é maravilhoso. Meus olhos ficam marejados só de pensar nisso.”
Ele se exalta com uma facilidade incrível quando começa a falar de ciência e conhecimento, e acha um absurdo que as pessoas não percebam como o dinheiro investido na academia hoje será revertido em soluções práticas eventualmente.
“Hoje você pode ouvir as pessoas dizerem ‘por que você está gastando dinheiro com o espaço se há tantos problemas na Terra…’ e as pessoas não se tocam! Elas não percebem que há um intervalo entre as fronteiras do pensamento científico e a transformação da sua vida por elas no futuro.”
Embora não se controle às vezes, o astrofísico tenta, na medida do possível, manter os pés no chão e jamais achar que algo será revolucionário até esse algo realmente se tornar revolucionário.
“Metade da minha biblioteca é de livros velhos porque eu gosto de saber como as pessoas pensavam sobre seu mundo em seu tempo. Assim eu não fico me achando por algo que nós acabamos de descobrir e posso ser humilde em relação ao nosso próximo passo. Posso ver as pessoas que acertaram e a grande maioria que errou.”
E depois dessa passagem longa, mas insuficiente, pelo repertório do frasista mais talentoso da ciência contemporânea, terminamos com uma frase sobre a morte. É só uma frase, claro. Neil fica mais vivo a cada dia que passa, e a gente espera que ele continua espalhando conhecimento por aí por um bom tempo.
“Eu quero ser enterrado, em vez de cremado. Para que a fauna e a flora possam se alimentar do meu corpo como eu me alimentei da fauna e da flora por toda a minha vida.”