As pessoas crescem acreditando que existem condições que podem tornar a vida mais fácil, como ser bonito, magro e bem-sucedido, por exemplo. E planejam seu futuro baseando-se em modelos que consideram ter alcançado um estado de bem-estar inquestionável. Espelham-se tanto em figuras próximas, como um pai ou avô, quanto em personagens públicos, como empresários ou artistas, mas sempre são indivíduos que se destacaram de alguma forma em suas áreas de atuação. Podemos supor que isso aconteça desde sempre, não sendo fenômeno da modernidade: apenas tem se manifestado de forma mais intensa, pela glamourização dos famosos, com um cotidiano tão distante da existência do restante dos mortais, e uma certa banalização da individualidade.

Parece mais fácil imitar do que criar. Ou se aceitar, em suas qualidades e, por que não?, imperfeições. Exemplo disso pode ser encontrado nos consultórios de cirurgiões plásticos, onde mulheres vão em busca de transformações estéticas, principalmente faciais, munidas de fotos de atrizes ou cantoras, em busca daquele nariz ou daquela boca, que lhes darão a beleza que não enxergam em si mesmas. Adolescentes e adultos jovens são os mais vulneráveis às pressões, por ainda estarem em processo de amadurecimento e formação da personalidade. E isso é percebido tanto na adoção de modismos quanto na tentativa de se tornar indivíduo, no distanciamento dos pais e na aproximação maior com o grupo.

A adolescência é a fase de autodescoberta que dará, ou não, ferramentas para enfrentar o mundo adulto.
Até que ponto querer ser algo, de cantor de rock a médico, conquistar um determinado status, sendo empregado formal ou empreendedor, ou mesmo ter determinada aparência ou peso, é desejo próprio ou produzido por padrões sociais criados por uma cultura que elege uma determinada imagem ou estilo como o que deve ser seguido e, principalmente, que lucra, e muito, com a insegurança das pessoas? Essa é a questão que se coloca diante de tantos casos de transtornos alimentares, resultado de problemas de autoimagem e autoaceitação, da busca por soluções, aparentemente, fáceis — repetidas lipoaspirações, por exemplo—, em lugar de mudança de estilo de vida, e do aumento dos casos de depressão, ansiedade e estresse, cada vez mais tratados com medicação.

Com todas as possibilidades antes inexistentes, percebe-se uma paradoxal diminuição do nível de satisfação consigo mesmo e com a vida. O contentamento passa pelo entendimento das próprias necessidades: querer emagrecer para se sentir saudável, mas dentro de seu biotipo e não por cobiçar o corpo da modelo da capa; desejar se sentir bonita, mas se transformando de dentro para fora, cultivando leveza, uma visão positiva de si mesma, do mundo e do futuro, em vez de procurar essa sensação em produtos cosméticos ou procedimentos estéticos; pretender ser bem-sucedido para viver com dignidade, poder desfrutar de cultura, investir no aprimoramento pessoal, tudo isso é louvável. Mas ansiar por uma vida que lhe foi vendida como ideal e que, para ser alcançada, o preço será abrir mão de si mesmo, não me parece um bom investimento.

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