O país é um país extremamente desigual. Basta sair pelas ruas, especialmente nas grandes cidades, e nos deparamos com moradores em situação de rua, famílias vivendo em condições precárias e há uma coisa muito triste: a gente se habitua. É uma situação tão comum que passamos a perder a capacidade de nos solidarizarmos e de nos indignarmos com a situação.

A normalização da desigualdade é perigosa porque deixamos de cobrar os responsáveis por diminui-la e não nos colocamos como atores capazes de mitigar os problemas. É sempre bom lembrar que vivemos em sociedade – a sua vida importa, mas a do outro também.

pensarcontemporaneo.com - Mário Sergio Cortella: A desigualdade também é problema seu!

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Confira a reflexão completa de Mário Sergio Cortella:

Alguns de nós aqui, quando crianças, colocávamos capa de plástico ou de celofane nos nossos cadernos e livros. Servia para proteger?

A gente tinha que a professora dava nota a mais. Se a gente não fizesse a orelha no caderno. Ou no livro?

Atenção, isso tinha um resultado gostoso, mais cruel.

Na época, não se pensava nisso. Alguém como eu, filho de professora com bancário, não tinha tanta dificuldade de não fazer a orelha no caderno porque eu tinha uma mochila para levar os livros. Ao chegar em casa, eu tinha uma mesinha para por onde ficava só o meu material e eu não fazia a tarefa na mesa da cozinha junto com a louça do almoço.

Mais uma parte dos meus colegas num país que até hoje é riquíssimo com o povo pobre. A maior parte dos meus colegas não tinha como fazer isso.

Isto é, não tinha onde guardar o livro ou caderno, não tinha um lugar para que houvesse proteção.

E a injustiça ali estava em algo que a professora, o professor, não notavam naquele momento. Não era correto dar nota por algo que só alguns conseguiriam fazer.

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E aquele menino que vivia numa casa?

Com as coisas sem capacidade que tinha de fazer sua lição dentro da mesa, como eu disse, da cozinha ainda com a louça do almoço chegando, ele será avaliado no mesmo que modo que eu que tenho é condições ou tinha, não era uma questão de mérito.

Por melhor que ele fizesse, ele ia ser derrotado por algumas coisas depois bem, e uma parte fazia o melhor na condição que tinha. E você conhece muita gente que não tendo condição econômica, oferece o que tem de melhor para as filhas, para os filhos, para a família, para a comunidade e gente que com pouco dinheiro, ainda doa.

Não é aquele que doa às vezes para coisas que não são tão claras, tão transparentes, em que a pessoa entrega o dinheiro sem saber direito qual é o uso, inclusive porque não há recibo. Mas a gente que doa.

É isso é um Paulo onde eu moro, onde Pedro mora também. Algumas pessoas que também aqui moram lá sabem a área favelada na cidade que é muito grande, tem uma solidariedade imensa. Se não o povo viveria.

Pega fogo num barraco, sabe o que faz a mulher do barraco do lado traz os filhos da outra, que estão sem onde morar, onde comer e ainda usa uma expressão onde come 5, come 7.

Nós clama da média classe média, somos meio… A gente não gosta de visita.

Não gosta muito que o vizinho do lado dos nos procure uma parte de nós que mora em cidades com muito apartamento, você nem sabe o nome do vizinho. Aliás, você só sabe o nome dele no dia que ele morre, aparece o aviso no elevador da missa de sétimo dia. Há era esse que morava aqui na frente. É, morreu.

De cuidado?

Às vezes a gente tem falta de capricho com a nossa vida, com as nossas coisas. Cuidado, a gente se acostuma com o ausente modo do capricho, que é uma vida que não é decente nem para nós com aquilo que fede. Nós nos acostumamos com aquilo que é podre.

E eu digo isso por uma razão, a gente se habitua e não senti estranheza com isso.

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Gabriel tem 24 anos, mora em Belo Horizonte e trabalha com redação desde 2017. De lá pra cá, já escreveu em blogs de astronomia, mídia positiva, direito, viagens, animais e até moda, com mais de 10 mil textos assinados até aqui.