Por Maria Lúcia Pellizzaro Gregori
Podemos perceber a insistência da nossa mente em dar nome aos bois que não viveram no nosso pasto.
À primeira vista essa fala parece grosseira mas, na verdade, quero apenas chamar atenção para determinados comportamentos que foram sedimentados em nós e que, não raro, desqualificam uma luta da qual não participamos.
É realmente fácil, depois de situações alheias instaladas, nós nos sentirmos no direito de opinar, sem termos passado pelas dificuldades que foram impostas na vida de pessoas que não nos pediram ajuda e, portanto, delas pouco conhecemos. As estradas são diferentes, embora os destinos pareçam semelhantes. As lamúrias e as gratidões se encontram em limiares próximos mas as almas são individuais. As missões podem estar na mesma página mas as páginas anteriores pertencem a outros cadernos. As pessoas podem ser todas humanas mas estão em estágios de evolução particulares e só conseguem realizar até onde sua consciência alcança.
Quantos sapatos foram necessários para que chegássemos no mesmo porto?
Quantas vezes nossos pés foram ao chão?
Quantos calos se formaram pela força de vontade e determinação de chegar até o fim de uma jornada?
Quantos quilos esses pés carregaram?
O corpo era leve?
O corpo era pesado?
As solas eram de borracha?
Os sapatos eram de couro?
As sandálias eram de plástico?
O sol estava quente?
Tinha água para refrescar?
A caminhada foi solitária e triste ou coletiva e divertida?
As noites foram frias?
A chuva foi persistente?
O medo foi determinante?
A coragem ultrapassou o limite de segurança?
Alguém precisou pular no abismo?
O horizonte estava colorido?
Pois é. A linha de chegada não mostra a travessia como um todo. Tem pessoas que se brutalizam pelo tanto que precisaram lutar. Tem pessoas que nem se dão conta do trajeto porque tiveram tudo facilitado.
E qual a vitória maior?
Quem venceu?
Não podemos responder pelo outro, mas pela nossa própria história que tem todos os tipos de desafios pois, como seres únicos que somos, cada situação representa uma dificuldade a ser vencida ou um talento a ser utilizado. O que é difícil pra mim pode ser exatamente o potencial criativo do outro. Então, só podemos responder pelo que sentimos em nossa pele. Mesmo assim, está escrito que devemos nos amar e amar nosso semelhante na mesma medida. A consciência nos aponta cada passo que precisamos dar. Se nos conectarmos com processos que expandem essa consciência, seremos justos com nossas realizações e estaremos cada vez mais amorosos e gentis com os caminhantes de todas as estradas.
Antes de julgar alguém, olhe longamente para uma flor e sinta seu perfume. A natureza vai mostrar as infinitas possibilidades de ver o mundo em sua abundante beleza e em sua força de criação.
Não julgue ninguém.
Calce primeiro os sapatos daqueles pés.
Publicado anteriormente em Clube Stum