Qual é o segredo para a tomada de decisão com sensatez? É baseada em fatores e expectativas sociais, na razão, na emoção? Leva em consideração fatores coletivos, ou apenas erros e acertos individuais?
O neurocientista português António Damásio busca respostas para questões do campo filosófico baseado no funcionamento do cérebro. Damásio, que conquistou reconhecimento internacional na área das neurociências, relaciona sentimentos como o medo e a compaixão ao processo de tomada de decisão.
Os argumentos de Damásio baseiam-se, inclusive, em casos de pacientes que tiveram lesão cerebral na região do córtex pré-frontal, área responsável por processos cognitivos como a formação de memórias emocionais e a tomada de decisões. A partir do momento que as memórias emocionais ficam comprometidas, é mais difícil identificar o peso das situações, quando são vantajosas ou quando são perigosas.
O neurocientista chama de Sistema de Posicionamento Emocional um mecanismo que pode ser comparado a um GPS: partes do cérebro e do corpo unem-se para interpretar o cenário e nos guiar conforme nossas memórias emocionais. A esse mecanismo, soma-se o lado racional para atingir equilíbrio.
Conhecimento não é o único pilar da tomada de decisão, e o uso da razão sem emoção não garante boas escolhas. O autoconhecimento, a consciência de outros fatores que influenciam o processo, ter ciência das emoções que nos compõem, nossas memórias emocionais acumuladas com as experiências, tudo isso reflete na tomada de decisão. Razão e emoção devem andar juntas para que possamos fazer melhores avaliações e decisões.
Quanto mais as pessoas compreenderem como é que, nas suas decisões, pesam certos fatores, mais será possível tomar decisões sensatas. Uma decisão sensata não é uma decisão feita só com conhecimento, é uma decisão que toma em conta que são muito pessoais, ou fatores que são, digamos, de um afeto social.
Pense, por exemplo, no fato de que nós temos emoções muito simples como o medo, a zanga, o nojo. Mas temos, ao mesmo tempo, emoções extremamente complexas, como o orgulho, a compaixão, a vergonha, o embaraço, a admiração.
A distância que há entre o medo e a admiração é perfeitamente abissal. O medo é uma coisa que nós partilhamos com as criaturas mais simples à nossa volta.
A reação de compaixão é algo que vamos encontrar em algumas espécies não humanas, mas não necessariamente, por exemplo, nos répteis. Mas ter uma reação de compaixão para com uma pessoa que perdeu o emprego, ou com uma pessoa que foi humilhada publicamente, isso é estritamente um desenvolvimento humano, e é um desenvolvimento humano que neste momento já tem, também, uma raiz biológica.
Assista à fala que deu origem a este conteúdo no vídeo abaixo:
Conteúdo original do site FRONTEIRAS DO PENSAMENTO
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