Se existe algo intrigante na atual produção cinematográfica é o modo como algumas obras surgem discretamente e acabam conquistando multidões. Foi exatamente isso que aconteceu com “Todos Menos Você”, dirigido por Will Gluck.
À primeira vista, parecia apenas mais uma tentativa banal de reciclar histórias românticas manjadas, mas o filme acabou surpreendendo justamente por abraçar descaradamente seus clichês.
O roteiro não tenta disfarçar a inspiração em “Muito Barulho por Nada”, de Shakespeare. Pelo contrário, escancara de maneira divertida e leve sua herança clássica, adaptando personagens já conhecidos para contextos modernos exagerados propositalmente.
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Ben e Bea são claramente versões contemporâneas dos icônicos Benedick e Beatrice, e assumem com orgulho todos os clichês e situações previsíveis das comédias românticas.
É justamente na aceitação explícita dessas previsibilidades que está o grande charme do filme. O diretor Will Gluck nunca pretende criar algo profundo ou revolucionário, mas sim brincar com o conforto oferecido por histórias já conhecidas.
Cada cena, marcada por diálogos divertidamente exagerados e situações improváveis, não busca convencer, mas entreter com sinceridade.
A química exagerada entre Sydney Sweeney e Glen Powell contribui diretamente para isso, oferecendo ao público atuações carismáticas e despretensiosas que enriquecem essa proposta.
Porém, “Todos Menos Você” não é somente diversão superficial. A obra traz consigo uma curiosa reflexão sobre o próprio gênero ao qual pertence.
O roteiro elaborado por Gluck e Ilana Wolpert brinca conscientemente com a repetição, transformando cada clichê em uma espécie de comentário irônico sobre o desgaste das comédias românticas atuais.
Personagens secundários, como Pete (GaTa), aparecem pontualmente para questionar de maneira sutil as escolhas absurdas dos protagonistas, abrindo discretas possibilidades de narrativas alternativas mais elaboradas.
Ainda assim, o filme opta claramente por não aprofundar esses caminhos alternativos. E essa decisão, longe de ser um defeito, acaba valorizando ainda mais a experiência leve e descompromissada proposta pelos realizadores.
Num tempo em que produções frequentemente tentam entregar mais do que conseguem, “Todos Menos Você” aposta justamente na simplicidade. Seu maior mérito está em não fingir ser algo que não é.
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