Nascido em 19 de junho de 1623, na cidade francesa de Clermont-Ferrand, Blaise Pascal é mundialmente conhecido como um dos maiores matemáticos de todos os tempos. A fama é justa, já que ele é responsável, entre outros feitos, pela criação de dois ramos matemáticos: a Geometria Projetiva e a Teoria das Probabilidades.
Mas reduzir Pascal à matemática é uma injustiça. Como todos os gênios, ele era multidisciplinar e trouxe contribuições importantes também no campo da física, com estudos de fluídos, vácuo, pressão e hidrodinâmica. Mais ainda, dedicou-se à teologia e à filosofia, enunciando em sua obra Pensamentos alguns dos princípios da filosofia moderna, entre eles a finitude do ser.
Inventando a roda… e mais
Como consequência de suas investigações científicas, Pascal acabou inventando diversos aparatos. O mais famoso deles talvez seja a pascalina, considerada uma das primeiras calculadoras mecânicas do mundo. Criada para ajudar no trabalho de seu pai, um agente fiscal, ela era capaz de fazer adições e subtrações. E falamos do século XVII, quando sequer havia energia elétrica. Ele assegurou a produção e venda de pascalinas e uma delas está em exposição no museu de sua cidade natal.
Pascal também inventou – ou começou a inventar – uma das formas de entretenimento mais famosas dos cassinos, a roleta. Foi um pouco sem querer, é verdade. O matemático buscava criar uma roda de moto perpétua e, ao mesmo tempo, desenvolvia a teoria das probabilidades. Seu estudo enunciava a chance de um determinado evento acontecer, como por exemplo uma bolinha de metal cair em uma casa específica de sua roda em movimento. Os cálculos incluíam a possibilidade de acertar um número exato; ou um conjunto de números; ou uma característica do número (par ou ímpar, preto ou vermelho etc). Essas probabilidades serviram como base para a definição do valor pago em cada aposta, e permanecem válidos até hoje.
Pascal, contudo, não estava interessado no jogo em si, apenas na física e na matemática envolvidas. O que não impediu que outros espalhassem a roleta pela Europa. Mas ela ficou realmente famosa graças a dois irmãos espertos e um príncipe quase falido. Os irmãos eram François e Louis Blanc, que no século XIX aproveitaram o estudo das probabilidades de Pascal e removeram de suas roletas o zero-duplo. Isso aumentou a possibilidade de ganho dos apostadores, e logo todos queriam jogar na nova versão. Coincidentemente, o pequeno principado de Mônaco passava por apertos financeiros e viu na roleta dos irmãos Blanc uma oportunidade. Foi criado então o Casino de Monte Carlo, que logo encheu de visitantes, e também os cofres do soberano.
Pascal foi especialmente prolífico no campo da física. Seus estudos com fluídos complementaram o trabalho de Torricelli, esclarecendo conceitos de pressão atmosférica e vácuo. Para provar que a pressão era menor em altitudes elevadas, Pascal convenceu seu cunhado a escalar o Monte Puy de Dôme, de 1460m de altura, para realizar um experimento com colunas de mercúrio. Ele teria ido pessoalmente, se sua saúde permitisse. Mas ao menos reproduziu o experimento em menor escala, subindo na torre de uma igreja.
Mas foi no campo dos fluídos hidráulicos que Pascal mais se destacou – e inventou mais dois itens usados até hoje: a prensa hidráulica e a seringa. E deixou os postulados que norteiam toda a hidrodinâmica moderna.
Todas as contribuições de Pascal nas ciências exatas não impediram que ele também deixasse um legado expressivo na literatura. Tanto que é considerado um dos mais relevantes autores do período clássico francês, muito pela sua prosa bem-humorada e por vezes satírica. Nas ciências sociais, suas reflexões em contraponto a René Descartes influenciaram toda uma geração posterior de filósofos, entre eles ninguém menos que Frederich Nietzsche, que abominava “ideias produzidas em massa”.
Fruto de um tempo em que os gênios atravessavam diversas áreas (as mentes brilhantes de hoje são especialistas), Pascal pode ser resumido pela quantidade de coisas que levam seu nome. Além da já citada pascalina, existem o Triângulo de Pascal (na matemática), a Lei de Pascal (na hidrostática), a unidade de pressão Pascal (na física), o Barril de Pascal (física), a Aposta de Pascal (filosofia, teologia e matemática), para não mencionar a Universidade Blaise Pascal em Clermont-Ferrand e as Cadeiras Blaise Pascal, bolsas de pesquisa dadas a cientistas pelo governo francês.
Além de todas essas homenagens, ele pode receber mais uma. Recentemente, o Papa Francisco indicou que gostaria de beatificar Pascal. Além de matemático, filósofo, físico, escritor e gênio, ele pode em breve virar… santo!
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