Munida de uma coragem alimentada ao longo de anos, Florencia Luce conseguiu fugir de um mosteiro que a manteve enclausurada contra a sua vontade por mais de uma década e reencontrou as pessoas que tanto amava.
Era uma manhã de domingo quando, sem pedir permissão às freiras superiores, Florencia pegou o telefone e ligou para seus irmãos. “Esperem por mim em casa. Preciso falar com vocês”, disse.
Em seguida, pegou os poucos pertences que tinha, atravessou o portão e saiu para a rua. Parece ter sido fácil, mas ela planejou aquilo à exaustão em sua mente por muitos, muitos meses – só conseguindo colocar sua fuga em prática em dezembro de 1982.
Florencia não ficava totalmente isolada ou privada de liberdade, no entanto, o controle e manipulação psicológica da instituição era tamanha que a impossibilitava de pensar em sair de outra forma.
Anos depois, ela reconhece que tal experiência foi produto de sua confusão interna, isto é, da necessidade de encontrar uma voz em meio a uma família numerosa e do “esmagador peso das influências do ambiente” em que circulava, como ela mesma fala.
Apesar de ter vivido bons momentos no mosteiro, como “o canto gregoriano, os estudos e o carinho das companheiras”, Florencia achava o dia a dia monástico excessivamente hipócrita, sigiloso e recheado de preocupações triviais que a afastavam da vida espiritual que tanto buscava quando entrou na instituição.
Ainda assim, ela precisou de doze anos para conseguir sair. “É como quando estar em um casamento ruim e não entender o porquê está em um culto”, explicou.
“Chegou um momento em que percebi que, embora você entre pensando que vai se transformar e ajudar a mudar o mundo, a vida ali envolve cuidar de coisas muito pequenas. É algo paradoxal, porque em vez de esquecer de si mesmo e pensar em Deus, você acaba olhando para o próprio umbigo. O mais grave foi que percebi que estava ficando doente e com a saúde mental abalada. Então, depois de 12 anos, consegui tomar a decisão”, relembrou.
Até então, Florencia havia tentado por várias vezes, mas sua madre superiora sempre convencia ela a ficar. “Por isso, parei de falar com ela e, um dia quando ela estava fora, deixei uma carta na mesa em que explicava que ia embora porque não podia seguir por outro caminho. Peguei minhas coisas e, sem dizer nada a ninguém, saí por aquela porta […]”.
Ao voltar para casa, felizmente, a jovem pôde contar com o apoio da família. “Chegar em casa resultou em um encontro emocionante. Muitos anos se passaram e eles não tinham noção dos meus conflitos internos. Conversamos, choramos e minha família ficou feliz. Quando saí, estava pálida, quase transparente de tão magra. Estava comendo muito pouco, consumida pela angústia. Demorou semanas para me reconstruir fisicamente”.
Com o passar dos meses, Florencia voltou a estudar, conseguiu um emprego, foi morar no centro e conheceu o marido… O resto é história!
“A terapia me ajudou a sair dessa, assim como o apoio da família e dos amigos. Tive muita sorte. Ao retornar ao mundo real, minha mente voltou praticamente para onde estava antes de eu entrar. Eu estava curiosa sobre tudo. Me adaptei com facilidade, era como se fosse um peixe voltando à água. O que me custou foi questionar por que fiquei presa tantos anos. Isso ainda é uma grande pergunta para mim”, ponderou.
“A minha experiência não me fez perder a fé em Deus ou na vida espiritual, mas agora a encontro muito mais nos textos literários, ou ao ouvir um concerto. Não percebo mais o mesmo na instituição da Igreja, cujas contradições, hipocrisias e mandatos ainda me provocam uma grande rejeição. Aconselharia a quem pensa iniciar uma vida monástica a não tomar decisões abruptas, a ter antes outras experiências e a não desistir de uma carreira”, concluiu.
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