Texto de Mariana Carneiro para Jornal da USP
Uma cerimônia realizada na Sala São Paulo, sede da Orquestra Sinfônica do Estado, no dia 4 de dezembro, marcou a entrega do 11˚ Prêmio Ernani de Almeida Machado. A iniciativa é promovida anualmente pela ONG Santa Marcelina Cultura, em parceria com o escritório de advocacia Machado Meyer, e homenageia bolsistas de destaque da Orquestra Jovem do Estado de São Paulo.
Desde 2020, a premiação inclui também a categoria Maria Vischnia, dedicada a reconhecer o talento das mulheres que compõem o grupo musical. Neste ano, a vencedora foi Giulia Miglioranza, aluna da Escola de Comunicações e Artes (ECA) da USP – onde estuda Percussão -, que recebeu uma gratificação no valor de R$ 32 mil. “Além de recente, essa é uma categoria muito significativa. Na maioria das vezes, apenas instrumentistas homens recebem aclamação e visibilidade”, conta Giulia. Maria Vischnia foi a primeira mulher a lecionar Violino no Departamento de Música da ECA, e o prêmio que leva seu nome busca assegurar a equidade de gênero no meio musical.
Ouça no link abaixo a música Tchik, do percussionista francês Nicolas Martynciow, na interpretação de Giulia Miglioranza:
Realizado em etapas, o processo seletivo para a premiação Ernani de Almeida Machado inclui uma audição on-line e, posteriormente, uma prova prática para os finalistas. “Dentre os diversos inscritos, apenas 13 foram selecionados para a segunda fase. É um concurso acirrado. Eu nunca havia participado de uma competição, então essa foi uma experiência nova e bem diferente”, revela Giulia. A etapa final do concurso aconteceu no Teatro Caetano de Campos, localizado na região central da capital paulista, no dia 7 de novembro passado. “Saí de lá sem pensar que poderia ganhar. Eu tive um problema técnico com meu instrumento durante a prova e precisei interromper a apresentação para trocá-lo, o que me desestabilizou bastante”, continua a estudante. “Foi uma surpresa quando venci.”
Começo improvável
O início de Giulia no meio musical aconteceu de um modo pouco comum, segundo ela mesma. Ainda na infância, a instrumentista principiou seus estudos na Fundação de Desenvolvimento Cultural de Sorocaba (Fundec), como forma de passar o tempo enquanto sua mãe, que administrava uma loja no local, trabalhava. “Eu ia para lá todos os dias depois da escola e ficava horas sem fazer nada. Os professores de música, que sempre me viam, incentivaram que eu começasse a frequentar as aulas”, relembra.
“Fiz musicalização e, em 2012, comecei a estudar percussão. Não sei dizer o porquê de ter escolhido esse curso em específico, eu só vi os instrumentos e achei legal”, conta Giulia, rindo. A princípio, a jovem não pretendia seguir carreira na área. “Eu queria fazer design gráfico, mas, logo que comecei a praticar música, fiquei tão envolvida que percebi que não tinha mais volta.” Em 2018, ela foi aprovada na USP, onde atualmente cursa Bacharelado em Instrumento de Percussão. “Aqui na Universidade as aulas são voltadas para a percussão sinfônica, com instrumentos de orquestra e música de câmara. Aprendemos técnicas para tocar tímpano, marimba, xilofone, vibrafone, pandeiro sinfônico, pandeiro de samba, triângulo, pratos a dois, caixa, entre muitos outros.”
“Eu me formo neste ano. É uma sensação muito boa, mas também um pouco triste, porque eu passei tantos anos na USP que esse local virou uma parte de mim”, exprime a estudante. “Para o futuro, tenho planos que incluem fazer um mestrado fora do País, me aprimorar na percussão e, principalmente, continuar na performance orquestral. Eu me vejo fazendo isso por muito tempo”, finaliza.
Fonte: Jornal da USP
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