Valeria Sabater do site La Mente es Maravillosa
Ninguém nunca nos ensinou quais são as leis do sofrimento e como enfrentar o luto. Normalmente, a dor da perda chega de repente para nos desestabilizar, para nos quebrar um pouco por dentro. Pouco a pouco, vamos juntando cada peça para nos reconstruirmos novamente, sem saber que esse processo é, possivelmente, o maior aprendizado que já tivemos.
Ninguém está imune à perda, o luto é algo que todos nós vamos sofrer em algum momento: perder um membro da família, romper uma relação afetiva ou o simples fato de amadurecer envolve passar por diferentes níveis de sofrimento.
A coisa complicada de cada uma dessas formas de luto é que nenhum de nós se dá bem com o sofrimento, não sabemos como administrá-lo, ele nos transborda e às vezes até nos destrói. Porque … Como fazer isso? Existe talvez uma fórmula mágica que nos torne imunes à separação, ao vazio, ao abismo insondável daquela mão que não mais seguramos?
Em absoluto. Segundo nos explicam os especialistas, cada pessoa terá que encontrar seu próprio caminho para enfrentar o luto. Onde encontrar alívio, integridade e capacidade de se levantar novamente.
A maturidade emocional é aquela que sabe avançar através de suas próprias perdas, que aprendeu com o desapego e que, por sua vez, concebe as dificuldades como experiências de aprendizagem.
É difícil, nós sabemos disso. Pode-se ler muitas coisas sobre a tristeza, pode atender até o que um terapeuta lhe diz, o que seus amigos ou parentes lhe dizem para transmitir apoio. No entanto, qualquer que seja o nível, qualquer perda é um ato que a pessoa deve enfrentar sozinha e com seus próprios mecanismos.
Ninguém vai chorar por nós, ninguém vai reorganizar seus pensamentos e aliviar nossa dor. É uma tarefa nossa que exige tempo e que exige, acima de tudo, compreender que não somos tão fortes quanto pensávamos. Que, na realidade, somos tão vulneráveis quanto uma pena carregada pelo vento.
Isso é ruim? A vulnerabilidade é algo negativo? De maneira alguma, em nossa própria vulnerabilidade reside nossa verdadeira força. Pare por um momento para pensar sobre isso: se você resistir, se você se recusar a reconhecer que se sente magoado, que sua vida acabou de ser quebrada e que você sente dor, você levantará a parede da negação diante de você. Como enfrentar algo que você não reconhece que existe? Por que se recusar a lamentar a perda, a aceitar que você se sente vulnerável?
Reconhecer que somos vulneráveis nos permite ser flexíveis e capazes de nos adaptar, porque o luto, afinal de contas, não passa de uma resposta adaptativa ao que é alcançado através do sofrimento, através da dor.
Pode ser que falar de luto como uma forma de “arte” lhe cause alguma preocupação. Talvez seja porque nós preferimos concentrar as nossas vidas apenas em coisas agradáveis, reconfortantes e positivas. E isso é bom, sem dúvida, mas o prazer da vida tem implícito, por sua vez, uma parcela de sofrimento a que quase ninguém está imune.
No entanto, devemos esclarecer um aspecto importante. Quando se trata de falar sobre pesar, sempre pensamos em perdas físicas. Na morte. No entanto, os lutos afetivos ou emocionais, por um amor que tivemos de renunciar ou que nos deixou, e até porque não, ao simples ato de amadurecer como pessoa, de assumir novos valores, de abandonar esquemas de pensamento para desenvolver outros …
Um processo de crescimento interior onde também superamos sofrimentos pessoais e de identidade, às vezes, bastante profundos. Algo sem duvida, enriquecedor e necessario. Apesar disso, são processos que envolvem sempre certos medos, porque qualquer mudança implica uma perda implícita e até uma sensação de solidão ou vazio.
“A felicidade é benéfica para o corpo, mas o sofrimento desenvolve os poderes da mente.”
-Marcel Proust-
Devemos nos conscientizar de que a vida não é uma caminhada serena, onde a felicidade é sempre garantida. A vida, às vezes, dói e devemos aceitar a frustração, a perda e os nossos lutos. Porque todos eles são caminhos para uma sabedoria necessária.
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