A essência da condição humana, sua propensão à perda e à busca por redenção, assume novas nuances na continuação cinematográfica que segue um enredo apocalíptico. “Bird Box Barcelona”, obra dos irmãos Àlex e David Pastor, expande-se a partir das premissas estabelecidas pelo filme anterior de Susanne Bier, adentrando um território onde a estética visual se entrelaça com questões existenciais profundas, evocando temas já explorados na literatura décadas atrás.

O enredo mergulha na jornada de Sebastián e sua filha, personificando um estado de alegria solitária em meio ao vazio de um ginásio abandonado. A interpretação de Alejandra Howard como Anna oferece um respiro de leveza diante da desolação, capturada de maneira poética pela habilidade fotográfica de Daniel Aranyó. À medida que a narrativa avança, o roteiro habilmente costura as diversas linhas temporais, centralizando-se na figura de Mario Casas como Sebastián, um engenheiro que assume o papel de líder diante de desafios e perigos iminentes.

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Casas personifica o anti-herói em uma batalha contra pistoleiros cegos e une-se a um grupo de sobreviventes em uma jornada por um mundo que se esvai em recursos. Sua performance imbuída de angústia e determinação ecoa paralelos com figuras bíblicas como Moisés, conduzindo seu povo em busca de uma “terra prometida”, simbolizada por um gerador de energia capaz de aliviar o sofrimento coletivo.

Os diretores-roteiristas exploram, ao longo da trama, elementos místicos e reflexivos sobre o ciclo da vida e da morte, conferindo a Sebastián um papel de líder espiritual para aqueles que o acompanham em uma jornada que lembra a travessia do mar Vermelho. O filme destaca a capacidade de lidar com o luto e ressurgir a partir dele, evidenciado em momentos como a cena entre Sebastián e Anna em um terraço, observando o mundo vendado que ecoa paralelos com temas abordados por Fernando Meirelles em “Ensaio sobre a Cegueira”, adaptação do romance de José Saramago.

Ao expandir a narrativa e mergulhar em reflexões existenciais, “Bird Box Barcelona” transcende as expectativas do gênero, adentrando um território de significados mais amplos, oferecendo uma experiência cinematográfica rica em simbolismos e reflexões sobre a condição humana.

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Fonte: Omelete







Gabriel tem 24 anos, mora em Belo Horizonte e trabalha com redação desde 2017. De lá pra cá, já escreveu em blogs de astronomia, mídia positiva, direito, viagens, animais e até moda, com mais de 10 mil textos assinados até aqui.