Por Nara Rúbia Ribeiro
Por incrível que isso teoricamente possa parecer, olhar o humano como humano, muitas vezes, não é uma tarefa banal.
A sociedade, em seu atual estágio, possui uma rotulação silenciosa que escalona os seres humanos dentro de parâmetros específicos. É de acordo com essa rotulação tácita que, por exemplo, quando alguém diz, “morreram 300 moçambicanos em virtude da explosão de uma mina”, o outro responde: “ah, na África é mesmo assim” – e dá de ombros. Como se a habitual miséria ou mortandade minorasse o grave incidente, ou se a vida de um africano pouco valesse, em razão do seu status social.
Se dois incidentes de gravidade correlata ocorrerem no mesmo dia, um na Somália e outro na França, por exemplo, será que ambos “merecerão” as mesmas lágrimas do mundo? Não. Obviamente, não.
Essa hierarquia entre humanos é vista com tanta naturalidade que a desventura do rico é sempre mais sentida, embora a maioria do povo seja pobre. A desventura do branco é mais sentida, embora a maioria do nosso povo seja preta.
Outra não seria a lógica quando analisamos a forma como a sociedade trata aquele que descumpriu a lei e foi sentenciado e condenado pela Justiça. Considerando que a grande maioria dos que prestam reais e efetivas contas à Justiça Criminal já se encontra assinalada pela desumanização sistemática mencionada acima, a estes é acrescido um “plus” desumanizante sob a pecha de “bandidos” ou “deliquentes”. É fácil vê-los como seres menores e inferiores, menos humanos, desmerecedores das garantias e direitos que a nossa Constituição Federal e as nossas leis estabeleceram a todos.
Para quem trabalha com a Justiça, em especial na esfera penitenciária, a “zona de conforto” seria introjetar essa hierarquia e agir de acordo com ela. Contudo, alguns juízes ousam desafiar essa lógica desumanizante, dentre estes, João Marcos Buch.
Do trabalho humanizante relatado em crônicas
Longe do estereótipo tão comum do “juiz que se acha Deus”, Buch é juiz Corregedor do Sistema Prisonal de Joiville – Santa Catarina e tenta, ao conduzir o cumprimento das penas aplicadas a centenas e centenas de condenados, mostrar-se humano.
Talvez ele tenha compreendido que muitos dos apenados agem com desumanidade exatamente por se sentirem excluídos do seio da nossa espécie.
Um dos modos encontrados pelo magistrado é a utilização da literatura tanto para apresentar aos presos outras realidades e fazê-los, talvez, desenvolver ou exercitar a própria empatia por meio da leitura, implantando um sistema em que a pena sofre diminuição a cada livro comprovadamente lido, seja por ele próprio escrever as suas experiências.
Os presos também são incentivados a escreverem seus pensamentos e considerações, tendo, incluse, alguns desses relatos se transfomado em livros.
Pelas narrativas que Buch traz em seus livros, a estratégia reumanizante tem dado certo. Já são 7 os livros de crônicas publicados e todos dão mostras de que a empatia traz bons resultados.
Já foram publicados os livros: Crônicas, relatos e Vivências, Diário de Bordo de um juiz das causas humanas, Retroceder Jamais!, Juiz de si, juiz do mundo, Juiz achado na rua, Crônicas de um juiz que solta, Um juiz na era do ódio, todos pela Giostri Editora.
Do novo livro
No próximo sábado, dia 26, será o Lançamento do novo livro: A SOLITUDE DAS CIDADES: um juiz em estado de cárcere – crônicas em tempos de pandemia e o evento será virtual, na plataforma Sympla, com a participação do autor, quando este falará sobre as suas crônicas, justiça e direitos humanos, bem como sobre literatura na e da prisão, numa perspectiva de registro histórico.
Os trabalhos de João Marcos me fazem lembrar alguns escritores que me são caros. Rubem Alves dizia:
“Ensinar solidariedade? Que se façam ouvir as palavras dos poetas nas igrejas, nas escolas, nas empresas, nas casas, na televisão, nos bares, nas reuniões políticas, e, principalmente, na solidão…”
Já o poeta Manoel de Barros asseverava:
“Eu penso renovar o homem usando borboletas.”
Recomendamos a leitura dos livros de João Marcos a quem acredite já estar pronto para ver o humano em todo e qualquer humano. Inclusive ao olhar-se no espelho.
E que o escritor siga a reumanizar o humano por meio de letras, ou “borboletas”, como sonhava o poeta. E que faça ouvir, nas prisões, a voz dos poetas.
Boas leituras a todos!
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