Nós não somos plenamente conscientes do impacto das palavras, mas a verdade é que elas moldam nosso mundo desde muito jovens. De fato, os conselhos e censuras de pais e professores que ouvimos na infância muitas vezes se tornam uma voz interior que nos acompanha durante a vida adulta.
Os pesquisadores do Laboratório Nacional Brookhaven analisaram como o uso sistemático de palavras negativas afeta as pessoas. Os resultados, publicados na revista Emotion, revelam que ouvir a palavra “não” por apenas um segundo estimula a produção de cortisol, o hormônio do estresse, que em níveis elevados nas crianças pode afetar a função cerebral.
Eles também gostaram do fato de que, quando as pessoas faziam uma lista de palavras negativas, em pouco tempo seu humor piorava e pensamentos automáticos negativos começaram a aparecer. Para piorar a situação, o efeito das palavras negativas é amplificado ainda mais quando as ouvimos e somos os destinatários diretos.
Na realidade, esses resultados não devem nos surpreender, pois damos a essas palavras um significado negativo que ativa a amígdala, nosso centro de comando emocional, com o objetivo de avaliar o nível de risco que a fala representa para nós. Isso significa que, se uma criança é continuamente exposta a palavras de valência negativa que podem parecer ameaçadoras, é provável que ela viva em um estado de estresse contínuo.
Pior ainda é quando palavras negativas se tornam rótulos. De fato, muitos pais tendem a repreender os maus comportamentos de seus filhos colocando rótulos negativos como: “você é mau, preguiçoso, mimado, bobo …”.
Essas palavras não rotulam um comportamento, mas a personalidade da criança, que podem acabar se tornando uma profecia auto-realizável. O clássico estudo conduzido pelos psicólogos Rosenthal e Jacobson demonstrou indubitavelmente as terríveis conseqüências do efeito Pigmalião.
Na prática, se os professores pensavam que uma criança era inteligente, este teria mais probabilidade de obter boas notas, mas se acreditavam que um aluno era pouco talentoso, mesmo que não fosse, este acabava por obter uma pontuação ruim, já que tinha menos oportunidades para participar da aula e corrigir seus erros; assim, no final, a criança acabava pensando que realmente não era capaz.
O problema é que, em algum momento, ouvindo continuamente as mesmas qualificações, a criança acaba aceitando-as e incorporando-as à sua identidade. Dessa forma, se os pais lhe disserem continuamente que ela é preguiçosa, ela acabará sendo assim, pois acha que não faz sentido se esforçar ou que não pode fazê-lo. Portanto, rótulos negativos são sempre limitantes.
Por outro lado, o uso de rótulos negativos e adjetivos desqualificantes acabará se tornando o meio de comunicação da criança, que também os utilizará com seus colegas e até com adultos. Aprenderá a se comunicar com a negatividade, o que criará muitos problemas em seus relacionamentos interpessoais.
Por pior que o comportamento tenha sido e tão difícil quanto o estágio de desenvolvimento do seu filho, é importante que você tenha certeza de criar um ambiente comunicativo positivo. Isso não significa que você deva desculpar seus maus comportamentos, mas pode disciplinar com amor e o respeito, sem recorrer a rótulos negativos ou desqualificações que afetam sua auto-estima.
Um bom ponto de partida consiste em garantir que a criança saiba que, embora às vezes você a repreenda e precise recorrer à punição, você a ama incondicionalmente. A criança deve deixar claro que você está punindo seus maus comportamentos, não ela como pessoa. Desenvolver uma comunicação mais positiva em casa será benéfico para todos.
Adaptado do site Etapa Infantil
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