Adentrar o universo do crime exige certas características notáveis. Aqueles que optam por esta rota sinuosa e repleta de perigos, sejam eles reais ou figurados, compreendem que a habilidade de gerar soluções alternativas diante do colapso de um plano considerado perfeito é tão crucial quanto o maior dos tesouros obtidos após uma missão audaciosa.

O protagonista de “Dentro”, um ladrão de obras de arte de métodos sofisticados, passou sua existência subestimando os riscos até se encontrar confinado em um apartamento de luxo em Manhattan, manipulado por indivíduos ocultos durante um assalto de grandes proporções.

Vasilis Katsoupis, o diretor, mestremente entrelaça suspense e drama com uma ação calculada, destacando a angústia de seu protagonista, um vilão em desventura.

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Embora falte explorar mais profundamente as razões que levaram esse homem sem nome e sem características distintas a se encontrar nessa situação desesperadora, Katsoupis compõe seu filme com sequências visualmente impressionantes que capturam tanto o declínio físico quanto o moral do criminoso, evidenciado na expressão conturbada do talentoso ator principal.

O personagem Nemo desabilita o sistema de segurança de um luxuoso apartamento e rouba várias pinturas, principalmente do expressionista austríaco Egon Schiele, conhecido por seus autorretratos e por ter sucumbido à gripe espanhola em 1918.

Apesar de ser um detalhe menor, a frustração de Nemo é sugerida continuamente, fazendo um paralelo com o famoso peixe da animação de 2003, embora a referência vá muito além disso.

Nemo, cujo nome remete ao personagem de Júlio Verne em “Vinte Mil Léguas Submarinas”, é utilizado pelo filme para revelar, ainda que parcialmente, a história de um homem claramente desiludido.

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Katsoupis insere um flashback da infância de Nemo, focando em sua paixão pela arte, que é subitamente interrompida quando o sistema de segurança do apartamento o aprisiona, aumentando seu desespero à medida que percebe que pode estar sozinho por um longo período.

O ambiente se torna ainda mais opressivo quando Nemo descobre que a comida é escassa, a água não flui, e o apartamento, cheio de armadilhas, parece zombar dele ao som de “Macarena”.

Willem Dafoe, interpretando Nemo, captura magistralmente essa crescente tensão e desolação, evocando uma compaixão no espectador à medida que a narrativa avança.

O filme “Dentro” constrói uma analogia com “Ex-Machina: Instinto Artificial”, refletindo sobre os perigos potenciais da inteligência artificial para a humanidade, através da experiência claustrofóbica de Nemo.

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Katsoupis utiliza também imagens de câmeras de segurança para introduzir personagens secundários, que apesar de distantes, trazem elementos humanos à trama, contrastando com a situação desumana de Nemo.

O desfecho incerto do protagonista, após ele construir uma improvisada torre de móveis na tentativa de escapar, e os momentos de inovação para sobreviver, como a coleta de água de um sistema de irrigação, aproximam a trama de “Perdido em Marte”.

A situação de Nemo, preso mas perto da vibrante Nova York, deixa uma mensagem sobre aprendizado e resiliência diante das adversidades.

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Fonte: AC

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Gabriel tem 24 anos, mora em Belo Horizonte e trabalha com redação desde 2017. De lá pra cá, já escreveu em blogs de astronomia, mídia positiva, direito, viagens, animais e até moda, com mais de 10 mil textos assinados até aqui.