Quem foi criança nos anos 😯 deve se lembrar do Linus Van Pelt, melhor amigo do Charlie Brown, que vivia agarrado ao seu cobertor de segurança. Toda vez que Linus sentia-se inseguro e com medo, chupava o dedo e agarrava forte o seu cobertor, tal qual ele fazia quando ainda era um bebê.
Esse comportamento é o que chamamos na Psicologia, especialmente na Psicanálise, de Regressão, um dos muitos mecanismos de defesa que o ego pode lançar mão toda vez que sente sua integridade ameaçada. Assim, diante de um problema ou de um conflito que causa muita angústia e medo e que exige uma nova forma de adaptação, ou um novo nível de consciência, e sobre o qual não nos sentimos fortes e maduros o suficiente para enfrentar, inconscientemente regredimos para um estágio anterior do desenvolvimento, a fim de angariar forças.
Ou seja, retornamos para aquele tempo em que nos sentíamos mais seguros, não conhecíamos as tensões em questão e éramos protegidos por um pai todo-poderoso que podia nos levar embora. Essa regressão certamente vem acompanhada dos comportamentos que lhe são típicos: ódio, agressividade, crueldade, abusos verbais, obsessões, avareza, egoísmo, indiferença, individualismo. Atitudes características de um estágio de ego mais primitivo. Em pessoas mais velhas, a regressão também pode se manifestar como aquela eterna exaltação saudosista: “No meu tempo é que era bom”, deixando claro que as condições de vida do presente não são aquelas que se gostaria de estar vivenciando.
Todos nós sentimos angústia diante dos conflitos e das demandas que a vida constantemente nos apresenta, e é justamente essa angústia que nos impulsiona a resolve-los. No entanto, nem sempre somos capazes de resolver os mesmos de forma direta e imediata, através apenas do uso da razão. Somos animais racionais sim, mas somos, sobretudo, animais emocionais, o que diminui consideravelmente a nossa objetividade. Por isso, somos levados muitas vezes a resolver os conflitos de forma indireta e tortuosa, a fim de adaptar-nos às exigências que nos são impostas pela vida e pela sociedade em que vivemos.
A Democracia, por sua vez, é um sistema político que requer maturidade e responsabilidade, porque pressupõe a consciência da coletividade e das diferenças, e o diálogo na busca por soluções que beneficiem a todos. No entanto, há que se lembrar que a democracia brasileira ainda é muito jovem e, como todo jovem, talvez ainda não esteja madura o suficiente para enfrentar os desafios e conflitos da idade adulta. Talvez ainda não esteja pronta o suficiente para adaptar-se às exigências dos novos tempos e, por isso, precise regredir para estágios anteriores de desenvolvimento para fortalecer-se, e assim voltar a crescer.
O Brasil está no divã, olhando para as suas sombras, seus conflitos e temores. Ao que tudo indica, a psicoterapia terá duração de pelo menos quatro anos. Que possamos nos superar e nos transformar, chegando ao final desse processo com um desejo imenso de seguir adiante. Como disse certa vez Ariano Suassuna: “O otimista é um tolo. O pessimista é um chato. Bom mesmo é ser um realista esperançoso.”
Melissa Samrsla Brendler
Psicóloga – Atende em Porto Alegre – RS
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