Dias Perfeitos, novo trabalho do cineasta Wim Wenders, é uma daquelas raras produções que transformam o cotidiano em pura arte. O filme, que recebeu aclamação como o mais belo de 2024, acompanha a rotina aparentemente simples de Hirayama, um zelador de banheiros públicos em Shibuya, Tóquio. Mas há muito mais escondido por trás do protagonista e do roteiro do que os olhos captam à primeira vista.
A força de Dias Perfeitos está em seu detalhismo. Nos primeiros minutos, o silêncio e os gestos precisos de Kōji Yakusho, que interpreta Hirayama, dominam a tela. Sua vida parece ser guiada por rituais, como cuidar de pequenas plantas, ouvir fitas cassete e ler grandes obras literárias, como Palmeiras Selvagens de William Faulkner. Essa repetição, longe de ser monótona, constrói uma conexão com o espectador, revelando um homem com mais camadas do que sua postura discreta deixa transparecer.
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A trilha sonora do filme é um destaque à parte. Com clássicos como Perfect Day de Lou Reed e Feeling Good de Nina Simone, ela reflete a dualidade entre a melancolia e os momentos de alívio que pontuam a história.
Hirayama, com seus cassetes e livros, encontra beleza em detalhes que passam despercebidos para a maioria, enquanto tenta lidar com interações humanas complexas. Isso é ilustrado em cenas com seu assistente, Takashi, e mais intensamente com sua sobrinha Niko, que rompe sua rotina metódica ao se instalar temporariamente em sua casa.
Visualmente, Wenders entrega um espetáculo. Elementos como o komorebi — jogo de luz e sombra entre as árvores — dão ao filme uma estética que remete à Nouvelle Vague, com referências a Godard e Truffaut. Essa fotografia, combinada com a sensibilidade narrativa, cria um filme que é tanto uma homenagem ao cinema japonês quanto uma obra original em sua essência.
Dias Perfeitos, disponível no streaming, não é apenas um filme bonito; é um convite para observar a poesia que existe nos gestos mais simples. É um exemplo brilhante de como a sutileza pode contar histórias poderosas.
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