Camila Maccari – Matéria publicada anteriormente na revista Donna
Uma pesquisa da Abefin (Associação Brasileira de Educadores Financeiros) comprovou o que muitas mães já sabiam: pais gastam 30% a mais com filhas do que com os filhos meninos. O resultado, segundo o educador financeiro Leandro Rodrigues, seria motivado pela variedade de oferta de roupas, sapatos, acessórios e itens de beleza voltados para o público feminino desde a infância.
E quem é mãe de menina já atestou na prática: é só entrar em uma loja para perceber como é maior a quantidade de artigos disponíveis para elas – muito mais do que para eles. Para a psicóloga Vivian Hamman Smith, essa diferença já na infância é um retrato da sociedade que cobra mais da mulher e faz com que ela consuma mais para suprir essas exigências.
– No mundo feminino, a preocupação com o embelezamento é antiquíssima na maior parte das culturas, traduzindo-se na dedicação ao vestuário, em arrumar o cabelo, ornamentar o corpo e pintar o rosto. Hoje, esse investimento aparece frequentemente de forma muito precoce. Mães levam meninas ao salão de beleza, por exemplo, para fazer as unhas e até colocar luzes no cabelo. Criam-se, então, necessidades nessa área.
Mas o risco de se deixar levar pela variedade de mimos para meninas é apenas um dos fatores para pais gastarem mais com elas. Em geral, os produtos femininos são mais caros do que os masculinos – mesmo os infantis. Uma pesquisa realizada nos Estados Unidos analisou mais de 800 itens, desde brinquedos e roupas até maquiagens, e constatou que artigos de mesmas marcas e com as mesmas funções são, em média, 7% mais caros quando voltados para elas.
– No Brasil, esse dado se repete, e mulheres acabam pagando mais pela mesma coisa. Não é que o custo do produto seja mais caro, trata-se apenas de uma forma de se ganhar mais dinheiro em cima de algo que tem um valor emocional maior – explica Leandro.
O educador destaca que a solução não é parar de consumir ou tentar igualar os gastos, mas, sim, pensar o consumo de forma crítica desde cedo:
– O que preocupa é que toda essa oferta e o acesso a produtos em maior quantidade pode criar uma criança incentivada a ter itens novos para se sentir bem. O resultado pode ser um adulto com dificuldades na vida financeira.
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Aprenda a dizer não
Comprar tudo o que seus filhos pedem, é importante fazê-los entender que eles não poderão ter tudo – e isso não se resume à criação de meninas.
– Meninas tendem a desenvolver mais cedo as habilidades e linguagens sociais e podem ser persuasivas. Tradicionalmente, a educação dos meninos é mais dura. Talvez seja, sim, mais difícil dizer não às meninas quando elas pedem algo – diz a psicóloga Vivian Hamman Smith.
Eduque com mesada
Para Rodrigues, esse é o primeiro passo para uma educação financeira saudável. Seu filho vai ter noção de que as coisas têm um preço e que é preciso envolvimento e investimento para consegui-las:
– Comece dando uma certa quantia por semana e, conforme a criança for crescendo, transforme esse valor na mesada. É importante ensinar às crianças a importância de guardar o próprio dinheiro e fazer escolhas quanto ao que é realmente importante.
Dê a medida da realidade
Quando seus filhos desejam muito ter um brinquedo mais caro ou fazer uma viagem, por exemplo, aproveite a oportunidade para ajudá-lo a entender o valor das coisas.
– Quanto custa esse sonho? Quanto devemos guardar? Quando a criança se envolve nessas questões, temos um antídoto ao consumo não consciente – diz Rodrigues.
Criar uma garota custa cerca de 30% a mais: há mais variedade de
produtos com preços até 7% mais caros do que os itens para meninos
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