Artigo escrito pelo Dr. Roberto Debski

É muito grande o número de pessoas que sofrem as terríveis consequências de sempre adiar até a última hora o que deve ser feito.
Deixam para “daqui a pouco” ou para “amanhã” o término do projeto cujo prazo se aproxima rapidamente.

Ao invés de priorizar as tarefas importantes, usam seu tempo para outras atividades como arrumar e organizar o armário, ler revistas, os e-mails, posts do Facebook, ver as fotos dos amigos no Instagram, assistir o episódio daquela série no Netflix etc., até que a tarefa importante esteja no prazo limite e se torne urgente, trazendo imensa ansiedade, estresse e muitos aborrecimentos, além de uma correria insana para conseguir completar a tarefa, roubando sua qualidade de vida..

Reconhece alguém que age dessa maneira? Talvez você mesmo?

E aquela história das resoluções de Ano Novo? “Ano que vem tudo irá mudar!”. Como se a mudança de calendário tivesse o efeito mágico de transformar as nossas vidas.
Emagrecer, iniciar ou reiniciar a academia, fazer aquele curso de espanhol, parar de tomar refrigerantes e melhorar a alimentação, mudar para um trabalho que realmente faça a diferença… Temos a certeza da importância fundamental dessa mudança de comportamento, fará toda a diferença, apostamos.

Pesquisas mostram que a motivação para a mudança dura poucos dias ou semanas após o ano novo, e, mais uma vez, esse adiamento gera culpa e arrependimento. Conhecemos tantos que agem dessa maneira, mas, se gera tanta dor, por que o fazem?
O hábito e a repetição desse padrão é a conhecida PROCRASTINAÇÃO, comportamento disfuncional muito comum, que traz transtornos e dificuldades para a carreira, para os relacionamentos e até mesmo para a nossa saúde.

A definição de Procrastinação é “atraso voluntário de uma ação apesar das (pre)visíveis e negativas consequências futuras”. É escolher tarefas que trazem satisfação imediata ao invés de ter uma visão e ação de longo prazo. É gestar urgências e parir ansiedade e estresse.

Claro que não estamos falando das exceções eventuais que nos fazem adiar os planos, como por exemplo alguém que adoeceu na família e solicita nossa ajuda, e então precisamos adiar voluntariamente o término do relatório, segundo o pesquisador no tema, Dr. Timothy Pychyl, psicólogo professor da Carleton University, em Ottawa, Canadá.
O procrastinador habitual SABE que deveria estar focado em sua tarefa, sente-se mal por não fazê-lo e inconscientemente tenta aliviar seu sofrimento fazendo “compensações morais” para diminuir a culpa, por exemplo, ir na academia em vez de terminar o relatório, mas é um alívio fugaz.

Pesquisas psicológicas demonstraram que os procrastinadores habituais têm crenças equivocadas sobre o por que agem dessa maneira. Querem acreditar que não concluem sua tarefa porque precisam de condições ideais, e porque querem fazer as coisas com perfeição.

Segundo Dr. Piers Steel, professor de comportamento organizacional da Universidade de Calgary, na realidade, procrastinar não tem a ver com perfeccionismo, mas sim com impulsividade, tendência a agir imediatamente nas urgências e uma estratégia emocional não consciente para evitar situações que geram estresse. Porém, na hora em que não dá mais para adiar, lá na frente, o estresse retorna num grau bem pior, geralmente acompanhado da parceira quase inseparável: a ansiedade.

Para evitar lidar com fortes emoções e sentir ansiedade, as pessoas impulsivas se bloqueiam e adiam as tarefas importantes, como se essa estratégia funcionasse, mas não.

A empresa Saent, sediada em Hong Kong desenvolveu um projeto com a supervisão do Dr. Steel, um gadget e software, que atrasa a abertura de sites como o Instagram ou Facebook por um tempo determinado, 15 segundos ou mais, além de solicitar senhas para navegar na web criando pequenos “dificultadores”, que muitas vezes são o suficiente para fazer os procrastinadores habituais desistirem de procurar uma distração.

Os procrastinadores também querem acreditar que deixam tudo para a última hora porque rendem melhor sob pressão, mas na verdade se estressam mais pelo adiamento. Como poderia a qualidade do trabalho feito na última hora e correndo ser melhor do que o feito com prazo e mais planejamento?

Procrastinar comprovadamente afeta a saúde psíquica, aumenta os índices de ansiedade e depressão, e reduz o bem-estar. Mas não é só isso.

A Dra. Fuschia Sirois, professora da Universidade de Sheffield, na Inglaterra, pesquisou como a procrastinação afeta nosso comportamento em relação ao modo que cuidamos de nossas doenças crônicas e as consequências para nossa saúde a longo prazo.
Ela concluiu que os os procrastinadores que sofriam de doenças crônicas como pressão alta e doenças cardiovasculares tinham o comportamento mal adaptativo de evitar lidar com a doença, culpar-se ou simplesmente esquecer, varrendo-a para baixo do tapete, ao invés de criarem maneiras de lidar com suas doenças, como, por exemplo, encontrar um sentido para agir e iniciar atividade física acompanhado pelos amigos.

Os procrastinadores também sofrem de “miopia temporal”, ou seja, são menos capazes de enxergar no futuro as consequências de seus comportamentos. Eles têm uma visão de futuro impessoal, e mais abstrata, são menos conectados emocionalmente com sua imagem futura. Os altos níveis de estresse desviam o foco dos procrastinadores para objetivos e prazeres mais imediatos (comer aqueles doces agora) do que para os mais distantes (não comer os doces para não engordar e para manter a saúde).

Incrível descoberta: O MODO como pensamos em uma tarefa faz com que a adiemos ou não.

Dr. Sean Mc Crea e colegas da Universidade Konstanz, na Alemanha, fizeram uma interessante pesquisa com estudantes. Entregaram a eles questionários, e, ao respondê-los e entregar por e-mail em até três semanas, os estudantes receberiam um valor em dinheiro. Parece tentador?

O questionário tinha a ver com tarefas do cotidiano como abrir uma conta em um banco.
O primeiro grupo de estudantes tinha que responder questões subjetivas, (o que os fazia pensar de maneira abstrata), sobre qual a personalidade das pessoas que abrem contas bancárias, e o segundo grupo tinha que responder questões objetivas e práticas (o que os fazia pensar de maneira concreta), sobre quais ações precisam ser feitas para abrir uma conta bancária, como levar os documentos ao banco, preencher formulários, fazer um depósito inicial, falar com um gerente. Então, os pesquisadores aguardaram o envio das respostas.

A pesquisa foi publicada no jornal científico Psychological Science e os resultados foram reveladores. Mesmo que todos os estudantes fossem pagos para responder ao questionário, o primeiro grupo, que foi induzido a pensar de modo abstrato, procrastinou muito mais, e alguns nem entregaram suas respostas. O segundo grupo, induzido a pensar de modo concreto no passo a passo para abrir a conta, como, quando e onde, entregaram suas respostas muito mais prontamente, ao invés de adiar as respostas.

A conclusão dos autores foi “simplesmente por pensar na tarefa em termos mais concretos e específicos fez com que (os estudantes) sentissem que deviam completar a tarefa logo, o que reduziu a procrastinação”. As implicações dessa descoberta são importantes e aplicáveis no dia a dia.

Se você quer cumprir suas tarefas prontamente e deixar de procrastinar, PENSE E FAÇA AS COISAS EM TERMOS PRÁTICOS, E SE QUER QUE ALGUÉM CUMPRA UMA TAREFA, FAÇA COM QUE PENSE EM TERMOS PRÁTICOS.
A prática de “gerenciamento do tempo” isoladamente ajuda apenas parcialmente os procrastinadores.
Os estudos da Dra. Sirois e Dr. Pychyl mostram que é fundamental também observar o “gerenciamento das emoções”.

Reconhecer a ansiedade e o estresse, sem se julgar, e buscar maneiras de lidar com essas emoções e focar na tarefa, auxilia a superar a procrastinação.

Já que temos de agir com praticidade para superar a procrastinação, aqui vão algumas dicas para eliminar esse hábito nocivo e suas consequências prejudiciais:

1- Planeje-se desde o dia ou noite anterior e comece suas atividades logo cedo pela manhã, antes que outras solicitações, compromissos ou desculpas surjam para atrapalhar seus planos. Lembre-se como mostrou a pesquisa de planejar objetivos práticos e concretos, um passo a passo até a resolução.

2- Quanto mais rotineiramente você realizar uma tarefa, como fazer atividade física, meditar, alimentar-se saudavelmente ou escrever seu artigo, mais rápida e facilmente você implantará esse “programa” como um novo e benéfico hábito o qual fará parte de sua rotina diária.

3- Sempre que possível compartilhe com um amigo ou grupo a sua atividade. Eles darão apoio e motivação sempre que pense em desistir, e fazer atividades junto aumenta o grau de diversão e prazer.

4- Sempre prepare-se adequadamente para a tarefa que se propõe a fazer. Estar preparado aumenta a motivação, tranquilidade e confiança para atingir o seu objetivo.

5- Tome notas de seus objetivos e metas. Reveja frequentemente as anotações e as deixe onde as veja, como uma gaveta ou o espelho do banheiro. Mantenha o foco no objetivo continuamente.

6- Segundo Stephen Covey, autor do best seller “os 7 hábitos das pessoas altamente eficazes”, devemos fazer “primeiro as coisas mais importantes” (first things first), um dos sete hábitos. Mesmo que se sentir pouco motivado, trocar a atividade a ser feita por outras que pareçam mais atraentes, fará com que o que é importante fique para trás e acabe se tornando urgente. Sempre que você não cuida do que é importante, terá um “incêndio” à frente para lidar, e é altamente desgastante viver apagando incêndios, até mesmo para bombeiros experientes.

7- A ciência já comprovou que a técnica de ‘visualização’ tem o mesmo efeito em nosso cérebro do que a prática. Visualizar nos prepara para conquistar nossos objetivos. Visualize-se já desfrutando dos benefícios e boas sensações que terá quando tiver acabado seus compromissos e tarefas. Atletas de ponta treinam continuamente visualização de suas provas, diversas vezes antes de realizá-las. Ver com os olhos da mente o término da tarefa com você se sentindo muito bem prepara e abre o caminho, favorece e direciona para um bom resultado.

8- Treine e aprenda a lidar com suas emoções. Autoconhecimento, leituras, meditação, psicoterapia são recursos úteis e efetivos para proporcionar equilíbrio emocional e ajudar a lidar com a ansiedade e o estresse, os quais aumentam a procrastinação.

Para completar, sempre que tomar uma decisão importante, faça uma ação imediatamente a seguir, tomando atitudes concretas, iniciando de imediato a mudança (por exemplo, se decidir finalmente iniciar uma atividade esportiva, procure academias, se informe, telefone e visite algumas para ter mais informações e se matricule para começar a praticar).

Com tantas informações, decida agora o que quer mudar, iniciar ou transformar em sua vida e comece já. Aproveite a oportunidade para mudar, sempre é tempo!
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Mas o faça agora, ou vai deixar para depois?

 

Artigo escrito pelo Dr. Roberto Debski

O Dr. Roberto é médico (CRM SP 58806) especialista em Acupuntura, Homeopatia e tem formação em Medicina Ortomolecular. Também é psicólogo (CRP 06/84803), Coach e Trainer em Programação Neuro-Linguistica com certificação Internacional e constelador sistêmico familiar. Acompanhe nossos próximos eventos!
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