Na última segunda-feira (08), aos 75 anos, faleceu Rita Lee Jones, uma das maiores cantoras e compositoras da música brasileira, em decorrência de um câncer de pulmão diagnosticado em maio de 2021 e que vinha sendo tratado desde então.
Rita é reconhecida como uma figura fundamental no desenvolvimento da música nacional, especialmente no rock brasileiro, mas também no pop, bolero, carnaval e até mesmo na bossa nova. Além disso, ela foi uma das artistas mais transgressoras do país, com letras e atos impactantes nas últimas décadas.
Como um expoente do tropicalismo, Rita Lee fez parte de “Os Mutantes” e participou do álbum “Tropicália ou Panis et Circensis”, que se tornou um marco musical no Brasil durante a década de 60. Ela também foi integrante do grupo “Tutti Frutti” antes de seguir carreira solo no final dos anos 70.
Ao longo de sua carreira, Rita Lee produziu 40 álbuns, participou de várias novelas, escreveu livros infantis e ambientais, além de ter lançado duas autobiografias, sendo que uma delas encontra-se em pré-venda. Nos seus últimos anos, ela viveu em um sítio no interior do estado de São Paulo. Rita deixa três filhos: Roberto, João e Antônio.
Abaixo, separamos 10 músicas revolucionárias – e inesquecíveis – lançadas pela Rainha do Rock. Confira!
Rita Lee fez sua primeira aparição na televisão brasileira como parte da banda Os Mutantes. A música “Panis ET Circenses”, composta por Caetano Veloso e Gilberto Gil, marcou um ponto de virada para a banda, composta também por Arnaldo Baptista e Sergio Dias Baptista. Inicialmente, a banda se propunha a ser de rock, com fortes influências de Jimi Hendrix, The Beatles e Sly & the Family Stone, mas acabou recebendo influências do movimento Tropicália, ao qual também fizeram parte.
A expressão “Pão e Circo” traduzida do latim, remete a uma sátira escrita por Décimo Júnio Juvenal, no século II, em que o povo romano abria mão de sua liberdade de voto em troca de pão (grãos) e espetáculos circenses e jogos gratuitos.
Ao aplicar essa ideia ao contexto brasileiro, os baianos Gil e Caetano satirizaram os sonhos dos verdadeiros artistas brasileiros. Enquanto em Roma as pessoas abriram mão de escolher seus representantes por momentos de diversão, no Brasil a sociedade e representantes nunca valorizaram os artistas. Foi através da voz de Rita Lee que essa reflexão passou a ser praticada no país.
“Um belo dia resolvi mudar, e fazer tudo o que eu queria fazer”. Uma polêmica linha cantada em vista da conservadora sociedade brasileira dos anos 1970.
“Agora Só Falta Você” é uma música composta por Rita Lee e Luis Sérgio Carlini, que foi incluída no álbum “Fruto Proibido” da banda Tutti Frutti, na qual Rita era a vocalista.
Na letra da música, Rita apresenta uma visão empoderada da mulher, querendo se libertar de todas as amarras que possam impedi-la de alcançar seus objetivos na vida. Ela canta “e fui andando sem pensar em voltar e sem ligar pro que me aconteceu, um belo dia vou lhe telefonar, pra lhe dizer que aquele sonho cresceu”.
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A música “Jardins da Babilônia” foi lançada quando Rita Lee ainda era vocalista da banda Tutti Frutti, em meio à ditadura militar no Brasil. Embora não tenha sido censurada como a música “Eu e o Meu Gato”, que foi lançada no mesmo álbum, as entrelinhas da letra de “Jardins da Babilônia” revelam críticas ao sistema político/militar do país.
Em 1978, Rita Lee cantava “o palhaço ri dali, o povo chora daqui, e o show não para, e apesar dos pesares do mundo, vou segurar essa barra”. Aqui, o palhaço pode ser uma referência ao líder político e militar Ernesto Geisel, e, apesar da ditadura, Rita, representando a juventude, teria que “segurar essa barra”, isto é, se manifestar e ir às ruas para pedir por eleições diretas.
Quatro sucessos consecutivos que consolidaram Rita como uma das maiores representantes da música brasileira.
Em “Mania de Você”, a artista coloca a sexualidade feminina em destaque com “a gente faz amor por telepatia, no chão, no mar, na lua, na melodia”.
Já em “Chega Mais”, ela também traz a maneira como a mulher gosta de ser tratada intimamente e com liberdade: “depois me leve pra casa, me prenda nos braços, me torture de carinho, beijinhos, abraços, depois me coce, me adoce, até eu confessar”.
Em “Doce Vampiro”, que exala sensualidade, Rita Lee busca despertar as mulheres para o seu corpo e desejos: “Beija a minha boca, até me matar”.
Por fim, em “Papai me Empresta o Carro”, a rockeira satiriza os ‘boys’: “tô precisando dele pra levar minha garota ao cinema”. Além disso, relembrou a uma sociedade conservadora de sua juventude no trecho: “na minha idade ‘cê’ pintava o sete”.
Rita Lee lançou mais um álbum com seu nome, que ficou conhecido como “Lança Perfume” por causa da música de mesmo nome. Em homenagem ao seu pai, que jogava lança perfume na família quando o time corintiano vencia um jogo, Rita Lee lançou uma das músicas que mais a tornaria conhecida, com arranjos inovadores para a época.
A música “Baila Comigo” seguia uma vibe bolero e trazia elementos tropicais, como a natureza, povos originários e o sol. No refrão, a canção convida a dançar “como se baila na tribo”, em um esconderijo da artista.
No álbum, é possível notar a forte influência da música cubana em Rita Lee, como em “Caso Sério”, um bolero romântico que foi gravado por diversos artistas, incluindo Ed Motta. Já em “Nem Luxo, Nem Lixo”, a rainha do rock expressa sua energia intelectual e sexual, questionando a fé e desejando apenas saúde para aproveitar a vida.
“Eu sei porque vocês vieram aqui, vocês vieram conhecer o segredo da vida, o segredo que faz este movimento do universo contínuo, essa beleza. Nós estamos fundando uma nova igreja, a igreja da escatologia. Se vocês quiserem mandar o dízimo para o palco diretamente, podem jogar, nós estamos aqui exatamente pra isso. Portanto o segredo da vida qual é? A gente nasce, a gente cresce, a gente estuda, trabalha, arranja um emprego, ganha grana, vai ao supermercado, tosta toda a grana na comida, chega em casa, faz comida, come tudo e TUDO VIRA BOSTA!”, disse Rita Lee antes de um show célebre na qual refletiu sobre com o que ocupamos, afinal, o nosso tempo.
Do mesmo álbum de “Tudo Vira Bosta”, intitulado “Balacobaco”, “Amor e Sexo” chega para colocar as coisas nos seus devidos lugares.
Nesta canção, Rita Lee nos ensinou que “amor é latifúndio, sexo é invasão, amor é divino, sexo é animal, amor é bossa nova, sexo é carnaval”.
Descanse em paz, Rainha!
Confira mais algumas músicas da artista abaixo:
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Fonte: EST
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