O Rio Grande do Norte, maior produtor de energia eólica do país, deve estocar energia produzida pelo vento.
O governo potiguar assinou um protocolo com uma empresa de consultoria, que prevê a instalação de um projeto-piloto de armazenamento de energia verde em larga escala – o pioneiro no Brasil e na América Latina.
De acordo com o governo do estado, o investimento deve ser de aproximadamente U$ 12,5 milhões, o equivalente a quase R$ 70 milhões.
O documento prevê a instalação de um projeto de armazenamento de energia verde em larga escala – o primeiro do tipo no país e na América Latina.
A estrutura, que deve operar por 35 anos, vai ter 120 metros de altura e, quando concluída, capaz de armazenar aproximadamente 400 Mw de energia, o que representa quase 10% da atual capacidade de produção de energia eólica do Rio Grande do Norte.
O investimento no projeto-piloto será de aproximadamente R$ 12,5 milhões, segundo o governo. O acordo prevê o suporte do estado na interlocução com fornecedores e compradores de energia, além dos órgãos responsáveis pelo sistema nacional de energia. Também será estudado o local ideal para implantação do projeto.
“A previsão para construirmos a torre é de oito a dez meses e a nossa ideia é começar já no início do próximo ano, mas isso ainda depende dessas definições”, explicou João de Deus Fernandes, diretor executivo da EV Brasil, que representa a Energy Vault no país. De acordo com ele, no futuro, os investimentos poderão chegar a “centenas de milhões” de reais.
Como funciona
De acordo com Fernandes, o projeto funciona com “armazenamento gravitacional” – ou seja, a energia elétrica é transformada em energia cinética e gravitacional (relacionadas ao movimento dos objetos e à força da gravidade). Veja o passo a passo:
• A energia elétrica – que a estrutura quer armazenar – é injetada em um motor;
• Com uso de cabos de aço, esse motor levanta blocos de concreto que pesam de 30 a 35 toneladas;
• Esses blocos são empilhados em uma torre de até 120 metros de altura, onde podem ficar por tempo indeterminado;
Para usar a energia armazenada e jogá-la no sistema, os blocos começam a ser baixados da torre;
• O cabo de aço, por sua vez, está ligado a um gerador de energia elétrica, no topo da torre. Conforme ele se movimenta, com o peso do bloco, o gerador volta a criar energia elétrica, que é jogada de volta à rede nacional de energia.
Ele ainda explica que a tecnologia substitui baterias químicas, que não duram tanto tempo e podem gerar resíduos tóxicos para o meio ambiente.
Serve para quê?
De acordo com Hugo Fonseca, coordenador de Desenvolvimento Energético da Secretaria de Desenvolvimento Econômico do Rio Grande do Norte (Sedec), o armazenamento pode garantir o fornecimento de energia nos horários em que a produção da energia é menor e mais cara, por também ter mais demanda – entre 17h e 21h.
Atualmente, a energia é lançada no sistema logo que é produzida e não é armazenada em nenhum lugar. Porém, no horário de maior consumo, à noite, a produção de energia solar, por exemplo, não existe.
“Essa torre consome energia no momento que você tem menor custo e pico da produção, e pode jogar essa energia de volta para o sistema no momento em que o consumo e o custo da energia é maior”, afirma.
O secretário de Desenvolvimento Econômico, Jaime Calado, considerou a iniciativa um “divisor de águas”. “Estamos iniciando uma nova era de economia descarbornizada. Isso é pauta mundial e o que há de mais moderno, porque os países estão investindo em energia renovável e o pico da produção de energia não é no pico de consumo”, comentou.
O diretor da EV Brasil, João de Deus, considerou que quanto maior for a expansão da matrizes energéticas limpas e da capacidade de armazenamento dessa energia, menos o sistema dependerá das hidrelétricas.
“Quanto mais crescerem as matrizes eólica e solar, e as outras limpas, mais vamos precisar de armazenamento”, pontuou.
Assinatura do protocolo
Durante a assinatura do protocolo, a governadora do Rio Grande do Norte, Fátima Bezerra (PT), destacou que o estado é o maior produtor nacional de energia eólica do país, com mais de 5 GW de capacidade instalada. Também lembrou que o estado é pioneiro no desenvolvimento de projetos de produção de energia eólica em alto mar.
“Agora, temos mais esse pioneirismo que é ser o primeiro estado do Brasil e o primeiro país na América Latina a implantar esse projeto de armazenamento de energia limpa em larga escala. O Rio Grande do Norte está avançando em novas soluções, do ponto de vista tecnológico, para avançar na segurança do sistema elétrico. E isso ganha uma importância ainda maior considerando essa crise do sistema elétrico a nível nacional, com ameaça de apagão”, disse.
A governadora ainda lembrou que a ex-presidente Dilma Rousseff foi alvo de críticas, na época de seu governo, ao falar sobre “estocar vento”, no sentido de armazenar a energia produzida pelo vento.
“Na verdade, naquele momento, foi um motivo de deboche com todo caráter misógino que envolvia aquelas críticas à presidente Dilma, na medida em que queriam, pelo fato de ela ser mulher, mostrar uma mulher despreparada, desqualificada. Está ai a história, mais uma vez, fazendo justiça a ela”, afirmou a governadora.
A assinatura do protocolo foi acompanhada por representantes das federações empresariais do estado, além de universidades públicas.
Informações do G1