Adaptado de Etapa Infantil
As crianças aprendem todos os valores em casa e o respeito pelos professores não é exceção. Não é de surpreender quando um pai vai conversar com um professor e desrespeita o profissional. Então tudo se encaixa, já se entende por que o aluno tem um mau comportamento em sala de aula ou por que ele não é capaz de respeitar a autoridade educacional entre as quatro paredes.
Até pouco tempo atrás, era comum que os alunos se dirigissem a seus professores com uma barreira emocional entre eles que se refletia na linguagem. Os alunos tratavam seus professores por “senhor/senhora” e se levantavam quando o mestre entrava na sala. Talvez isso seja apenas uma linguagem para você, mas, na realidade, era uma forma de respeito pela autoridade… e isso está sendo perdido.
Em algum lugar dessa estrada nós abandonamos a bagagem do respeito, da admiração e até mesmo da veneração por aqueles que são muito mais que simples transmissores de conteúdo. A figura do professor representava a de um segundo pai, alguém incumbido de nos abrir os caminhos, de nos encher de bagagem para seguir na viagem da vida.
Com o tempo essas coisas foram perdendo o valor, a figura do professor foi perdendo a imponência e o desrespeito tomou o lugar e a vez da admiração, da consideração e, por que não dizer, do pouquinho de medo que cada um ainda sentia por aquela autoridade.
O sistema mudou, a sociedade mudou, caíram tabus e mitos e alguns valores se desfizeram, se diluíram na modernidade. O consumismo exige pressa e sobreviver exige disputa, competitividade e isso não deixa tempo para acompanhar integralmente a vida escolar dos filhos… ou, pelo menos, nos servimos dessa desculpa para justificar nosso descaso.
Em épocas passadas, ser contemplado com um advertência que alcançaria os pais, tinha um significado de quase morte para o aluno, era um terror. Ele sabia o que o esperava, tinha consciência que seria punido quase sem direito à defesa e tomava o máximo de cuidado para não reincidir. Hoje esse quadro se inverteu e o professor é quem tem que temer ser advertido.
Não ter tempo para acompanhar a vida dos filhos (ou se valer dessa desculpa), faz com que alguns pais procurem compensar isso de outra forma, com mimos fúteis e até se tornando mais permissivos. O instinto protetor se aguça para disfarçar a verdadeira natureza da coisa, que é a negligência. Para suprir as necessidades de consumo, atender as demandas dos caprichos dos filhos, trabalha-se cada vez mais, dedicando-se cada vez menos aos cuidados imateriais, como transmissão de valores. Isso vai formando uma sociedade aloprada, onde cada um se acha com mais direitos do que o outro e esse indivíduo vai retransmitir isso ao seu futuro filho, porque foi assim que ele aprendeu.
As escolas se tornaram “depósitos de jovens”, creches de adolescentes onde os pais enfiam seus rebentos para ficarem livres por um período. Ser chamado a atenção por algum ato indisciplinado do seu filho, faz emergir neles o famoso instinto de proteção, porque é difícil compreender que um profissional não consiga lidar com a geniosidade de uma criança, afinal, em casa, seu filho se comporta muito bem e passa o tempo todo entretido em games e / ou redes sociais.
Em outros aspectos temos as famílias desestruturadas em recursos econômicos, sociais e morais. Jovens que convivem em ambientes onde imperam a desarmonia, a violência e as drogas lícitas e até ilícitas. Desde cedo aprendem que para sobreviver, têm que se impor; e a figura de qualquer autoridade, seja ela qual for, representa repressão, tolhimento daquilo que eles acham que seja seu direito. Confrontar o professor é um bom exercício para desenvolver sua personalidade forte e esse é a primeira autoridade, fora do ambiente familiar, que ele tem à sua disposição para provar que pode defender sua posição e se afirmar.
Tanto os futuros filhos dos de “famílias estruturadas”, onde valores são substituídos por permissividades, quanto os procedentes de ambientes desestruturados, irão copiar os pais e repassar adiante a praga do desrespeito ao professor. O conceito de escola vai perdendo o real significado, passando a ser somente um lugar para onde se manda os filhos quando se quer ficar livres deles. Receber advertência do mau comportamento do filho gera muito desconforto e o professor é que vai pagar por ser “insolente”.
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