‘Tempos de Turbilhão – relatos do golpe de 64′ é leitura obrigatória para acompanhar Darcy por dentro dos fatos na sua viagem pelos meandros do poder.
“… ressaltam em Jango, por um lado, o profundo conhecimento prático da vida política brasileira e da máquina administrativa federal e seu realismo no trato com as correntes políticas conservadoras. (…) Não sei que imagem se terá no futuro, de meu amigo Jango. Aventuro-me, porém, a predizer que será mais generosa do que esta que se difundiu depois do golpe. Afinal, seu governo não caiu por seus defeitos. Foi derrubado por suas qualidades.”
Trata-se de trecho de um dos mais expressivos capítulos do livro Tempos de Turbilhão – relatos do golpe de 64, de Darcy Ribeiro, recém lançado pela Global Editora, organizado e prefaciado pelo jornalista Eric Nepomuceno que reuniu no volume alguns dos textos esparsos “escritos ao longo dos tempos” – como escreve em primorosa apresentação -, pelo chefe da Casa Civil do governo João Goulart até o golpe civil-militar de 1964 estendendo-se a 1996 com discurso no Senado.
O texto está no capítulo Meu Amigo Jango e apresenta uma carta dirigida a outro grande amigo de Darcy, Glauber Rocha, na qual ele procura traçar, espontâneo e com a afetuosidade que foi uma das suas principais marcas, porém com rigor crítico e distanciamento, a personalidade de Jango.
Tempos de Turbilhão é leitura obrigatória para acompanhar Darcy por dentro dos fatos na sua viagem pelos meandros do poder da época, das conspirações, das traições, a histeria habitual dos conservadores, as hesitações nas tomadas de decisões radicais enquanto era gestado – dentro e fora do Brasil, em Washington – o ovo da serpente da ditadura brasileira.
O livro vem em época mais que oportuna. Restabelece a veracidade dos vertiginosos eventos de então e ilumina a realidade de vários episódios desses tempos de turbilhão desmentindo uma narrativa de ficção de baixa qualidade, versão deformada, publicada em revista semanal paulistana, em março passado, no qual Darcy é apresentado como responsável pelo golpe de 64!
Por este motivo o presidente da Fundação Darcy Ribeiro (Fundar), Paulo Ribeiro, está entrando, no momento, com ação judicial interpelando e processando a semanal após mais de três meses de ruidoso e arrogante silêncio dessa empresa de negócios à sua demanda de retificação através do direito de resposta* da Lei de Imprensa ao texto irresponsável e manipulador, leviano e desonesto assinado por um batalhão de repórteres na edição de 26 de março último envolvendo um dos mais respeitados intelectuais do país, aqui e no estrangeiro – educador, escritor, antropólogo e senador da República.
A carta do presidente da Fundar (leia na próxima página) ficou, até hoje, sem resposta. A verdade agora é apresentada no livro de Darcy onde – destaca Nepomuceno no seu prefácio -, escapam da “penumbra detalhes essenciais sobre o desenrolar de um dos períodos mais tensos e decisivos da história brasileira.”
Tempos de turbilhão apresenta, em 19 capítulos, acontecimentos vividos pelo autor nos quais ele é figura central. Os textos versam sobre instantes que antecederam o golpe, abordam momentos marcantes do desabrochar da ditadura no Brasil e reflexões sobre as heranças que esse período nefasto legou para o desenvolvimento político e social do país – herança que até hoje perdura. Traz também fascinantes momentos dos encontros de Darcy com Fidel Castro, conversas suas com Che Guevara, com Salvador Allende, Neruda, Juscelino Kubitschek e tantos outros personagens protagonistas da época.
E traz um mea culpa pela quase ingenuidade dos que acreditaram que a Lei de Remessa de Lucros e a Reforma Agrária – reformas de base do governo Jango – não chegariam a desencadear as reações selvagens deflagradas então. “Chances perdidas por culpas nossas. Mea-culpa”, escreve Darcy.
“Os textos mostram a visão do autor do que aconteceu antes, relatam como foram os momentos do golpe, e estendem-se, depois, pelo exílio,” observa Nepomuceno.
Da mesma forma que amargou a derrota, ele diz, Darcy “soube se reinventar para continuar, até o fim, lutando com a ferocidade dos peregrinos para tentar reinventar o Brasil para os brasileiros. Sempre lutou para manter vivo o sonho de muitos brasileiros: construir as bases para uma sociedade democrática, justa e solidária.”
No bojo dessa sociedade, certamente, a existência de uma imprensa no mínimo decente e o repúdio sistemático às publicações jornalísticas caluniosas.
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