O Sonora é um dos mais quentes desertos dos Estados Unidos. Naqueles 311 mil quilômetros quadrados vivem cobras, ratos e lagartos. De tempos a tempos, debaixo de um calor extremo ou no gelo da noite, há um mexicano que tenta a sua sorte para alcançar o sonho americano.
O “grande muro” da fronteira com o México – aquele que Donald Trump diz querer construir – pode (ainda) ser apenas uma manta de retalhos de aço e arame com pouco mais de mil quilômetros, que tenta impedir os imigrantes ilegais de cruzar a fronteira para norte, mas a sua existência já levou à morte de milhares de mexicanos
A alternativa ao deserto é o Pico Bobquivari. No seu ponto mais alto, a montanha chega aos 2356 metros de altura e é por lá que outros emigrantes (se olharmos para o percurso de sul para norte) tentam entrar no estado do Arizona. Califórnia, Texas e Novo México são os outros estados que fazem fronteira com o vizinho a sul. Os dois países são separados por uma linha irregular que vai subindo, de Este para Oeste, do Atlântico para o Pacífico.
Construir um muro? Já existe há 25 anos
“Vamos construir um muro”, “o México vai pagar o muro”, “vamos afastar os traficantes, os gangues, os líderes de cartéis”. Em suma, a construção do muro entre a fronteira EUA-México é a solução-milagre do presidente norte-americano para esmagar as estatísticas de criminalidade americanas.
Mas a ideia não é nova. Os primeiros quilômetros dessa extensa barreira física acabaram de ser construídos meses depois de Bill Clinton tomar posse como 42º presidente dos EUA. O projeto, então batizado de “Border Wall” (ou muro de fronteira, numa tradução literal), nasceu durante a administração Bush (o pai, que só esteve quatro anos na Casa Branca) e resultou na instalação de 22,5 quilômetros – sensivelmente a distância entre o centro de Lisboa e o Estoril.
Esse primeiro muro foi erguido para separar as cidades de San Diego, a norte, e Tijuana, em território mexicano, na zona mais a oeste da fronteira entre os dois países. Em janeiro de 2009, o muro já tinha crescido. Bastante. Nesse ano, já tinham sido levantados 930 quilómetros, um terço dos 3145 quilômetros da fronteira entre os dois países. E a construção não ficou por aí.
Clinton chegou à Casa Branca com promessas de mão pesada sobre a vaga de imigração que lhe chegava do sul. Na sua era, sob a alçada da Operação Gatekeeper, o muro continuou a crescer — um projeto que contou com o apoio de Hillary Clinton, a candidata democrata que perdeu as eleições para Trump. Além do muro, a Administração Clinton enviou para o terreno mais patrulhas e apostou na tecnologia para complementar o controlo.
Atualmente com 1047 quilômetros, os vários muros e vedações são hoje uma irregular barreira que se impõe na paisagem das zonas urbanas mais povoadas e onde a passagem de migrantes (e, em alguns pontos, de carros) se faz (ou fazia) com mais intensidade e que desapareceu subitamente nas regiões mais inóspitas – daí que muitos mexicanos tenham passado a arriscar a travessia pelo deserto ou pelos montes da fronteira com o Arizona. Onde não há uma rede ou um muro de aço, há barreiras virtuais: câmaras de vigilância, sensores de movimento (além das patrulhas) são outros modelos de controlo migratório que os EUA têm em marcha para garantir que nenhum ilegal entra em território norte-americano.
Operação Gatekeeper (na Califórnia), Operação Safeguard (também em 1994, mas no sul do Arizona) e Operação Hold-the-Line (arrancou em 1997 no Texas). As várias fazes de alargamento do muro foram sendo batizadas pela Administração norte-americana. Na era Obama, não houve mais muro. Mas foram feitos remendos em zonas da barreira já fragilizadas.
Mais de 6000 cruzes na fronteira
Muitos ficaram pelo caminho. Em janeiro de 2009, a contabilização dos mortos dos nove anos anteriores fazia-se na ordem das 6000 pessoas, segundo a Organização Mundial para as Migrações.
Os dados do Fisco federal dos Estados Unidos mostravam que em 2015 morreram 240 pessoas – e esse foi o número mais baixo desde 1997. Dez anos antes, por exemplo, registaram-se 492 mortes de cidadãos que tentaram atravessar a fronteira. Os caminhantes morrem, sobretudo, vítimas do calor extremo, gelados pelas temperaturas negativas da noite ou desidratados. Noutros casos, menos frequentes, morrem afogados, ao tentar atravessar a nado certas zonas da fronteira, ou vítimas de acidentes de viação — apertados dentro de carrinhas e carros, aceleram através dos controlos de fronteira, mas acabam por despistar-se depois de os pneus dos carros serem destruídos pelos sistemas de prevenção instalados pelas autoridades norte-americanas.
O anonimato de cada uma destas vítimas só é quebrado pelas pequenas cruzes de várias cores colocadas em pé, junto aos pilares de aço, de cada vez que veem cair um familiar. São sobretudo mexicanos que tentam atravessar a fronteira, mas são-no cada vez menos. Em 2013, a percentagem de migrantes de outras nacionalidades (por exemplo, de sul-americanos chegados de El Salvador, da Guatemala e das Honduras) era já de 36%.
Muitos milhões em aço
Dependendo do tipo de terreno, dos materiais usados e até do preço do terreno nos diferentes pontos, cada milha (1,6 quilómetros) de barreiras erguida custou entre dois a três milhões de dólares. A estrutura erigida até hoje terá custado qualquer coisa como 2,4 mil milhões de dólares.
Um custo que, até hoje, foi suportado pelos impostos dos norte-americanos, mas que pode passar para os próprios mexicanos, embora os pormenores da medida ainda não sejam totalmente explicados. Esta quinta-feira, o porta-voz da Casa Branca revelou que a ideia de Trump para obrigar o México a pagar o muro, como sempre garantiu que faria, pode passar pela aplicação de uma taxa de 20% sobre os produtos importados daquele país.
E os dois terços que faltam?
Preencher o que resta da fronteira desprotegida poderá custar cerca de oito mil milhões de dólares, nas contas de Donald Trump. “Das duas mil [milhas], precisamos de 1000 porque temos barreiras naturais… e estou a considerar o preço por metro quadro e o preço por milha”, disse, em fevereiro, à MSNBC o então candidato à Casa Branca.
Há quem estime esse custo vários milhões acima. Citado pelo Telegraph, Marc Rosenblum, diretor do programa de Política de Imigração dos EUA, admite que o que resta do muro possa custar entre 15 a 25 mil milhões de dólares, a que acrescem 700 milhões de dólares anuais em custos de manutenção. “É muito mais dispendioso do que esperávamos quando começamos e foi muito mais difícil [de concretizar]”, admitiu, há um ano e meio, perante o Senado, um responsável de controlo fronteiriço norte-americano.
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