Do site Rincón de la Psicología
O abuso verbal não deixa vestígios físicos, mas os traços psicológicos são muito profundos. Uma frase, dita num momento em que estamos especialmente vulneráveis, pode ser impressa com fogo em nossa mente, ativada repetidas vezes. As palavras têm um poder incrível. Elas podem nos acalmar e nos fortalecer, mas também podem nos derrubar e nos machucar.
Não podemos ignorar que a convivência gera conflitos que muitas vezes nos deixam com emoções para à flor da pele. Até certo ponto, os conflitos são positivos porque representam oportunidades de mudança. Mas quando a discussão sobe o tom e as palavras se tornam ofensivas, ocorre uma situação de violência verbal. E “a violência, seja qual for a maneira como se manifesta, é sempre um fracasso”, nas palavras de Jean Paul Sartre.
Às vezes, no meio de uma discussão acalorada, surgem emoções e a raiva ou a frustração podem nos levar a dizer coisas ofensivas. É compreensível que, em algumas circunstâncias, nós perdemos nossa compostura, porém, se isso se torna a norma, estamos enfrentando uma situação de abuso verbal.
A violência verbal é uma forma de comunicação destrutiva em que uma pessoa ofende a outra. É um padrão comunicativo sustentado ao longo do tempo em que, de forma mais ou menos intencional, exerce-se um abuso verbal contínuo que afeta a autoestima da vítima causando emoções desagradáveis e gerando dúvidas sobre o seu valor como pessoa.
Não é fácil distinguir um argumento acalorado do abuso verbal. De fato, muitas pessoas nem sequer estão plenamente conscientes de que estão sendo vítimas de abuso verbal. As vítimas geralmente minimizam o que acontece ou tentam justificar o comportamento do outro pensando em coisas como “ele realmente não quis dizer isso”.
Deve ficar claro que se numa discussão acalorada uma das pessoas insultar, humilhar e / ou culpar a outra, a agressão verbal está ocorrendo. No entanto, uma situação específica não implica que uma dinâmica de abuso verbal tenha sido estabelecida no relacionamento. Isso ocorre quando há um padrão recorrente; isto é, quando os gritos, insultos, ameaças e humilhações são continuamente usados para subjugar o outro.
1.Insultos e gritos
Insultos e gritos são a expressão mais óbvia do abuso verbal. Neste caso, a pessoa continuamente levanta a voz para tentar impor e não hesita em recorrer a insultos e ofensas para tentar controlar a instilação do medo. Como o escritor John Frederick Boyes apontou: “a violência na voz é muitas vezes a morte da razão na garganta”.
2. Humilhação e crítica destrutiva
Há um tipo de abuso verbal mais sutil, mas muito prejudicial: humilhação e crítica destrutiva. Neste caso, a pessoa não recorre aos gritos, mas ao sarcasmo, à vergonha, aos gestos desdenhosos e à degradação para exercer controle. O outro pode recorrer a piadinhas que fazem você se sentir mal ou usar palavras e gestos que o depreciam e / ou fazem você se sentir incompetente.
3. Acusações e culpa
Em alguns casos, o abuso verbal é esconde uma manipulação. A pessoa te responsabiliza por todas as coisas ruins que acontecem, se isentando de qualquer responsabilidade, com o propósito de fazer você se sentir mal. Essa pessoa não hesitará em acusá-lo e culpá-lo, culpando-o sempre por más intenções ou total incompetência.
4. Trivializar
Esse tipo de abuso verbal é mais sutil e difícil de detectar, pois consiste em minimizar suas opiniões e sentimentos, a ponto de fazer com que você se sinta completamente insignificante. Essa pessoa não demonstra empatia, minimiza continuamente seus problemas e até se recusa a abordá-los.
5. Ameaças
Além das ameaças típicas pelas quais uma pessoa tenta controlar seu comportamento, há também ameaças que recorrem a um tipo de chantagem emocional. Um dos exemplos mais extremos é: “Se você me deixar, eu me mato”, mas existem muitas outras formas de ameaças e extorsão em todos os tipos de relacionamentos.
6. Coisificação
Neste caso, geralmente não há insultos ou gritos, a pessoa simplesmente se limita a tratá-lo como se você fosse um objeto, o que significa que você não presta atenção ou satisfaz suas necessidades emocionais. Essa pessoa sistematicamente ignora você, fingindo que você não existe.
7. Bloqueio do diálogo
Geralmente, identificamos agressão verbal com gritos e insultos, mas o silêncio também pode ser brandido como uma arma para causar feridas profundas. Não falar com uma pessoa, com o objetivo de fazê-la sentir-se mal, impedir o diálogo que possa resolver os conflitos que existem no relacionamento, é uma forma de violência verbal.
O fato de gritarem com nós, nos humilharem ou ignorarem nossas necessidades afetivas, muitas vezes acaba mudando nossa mente, nosso cérebro e até nosso corpo. Quando uma resposta de medo é acionada repetidamente devido a um ambiente hostil, como aquele marcado por gritos ou frieza emocional, ocorrem reações físicas e emocionais automáticas que podem causar traumas psicológicos. Na verdade, não é incomum que aqueles que foram vítimas de abuso verbal por anos acabem sofrendo de depressão ou ansiedade.
Além disso, a violência verbal aumenta a atividade da amígdala, de modo que ela se torna mais reativa e nos mantém em um estado de constante excitação nervosa. Também aumenta a produção de hormônios do estresse e gera tensão muscular, o que significa repercussões negativas na nossa saúde a médio e longo prazo, desencadeando doenças que têm um componente psicossomático.
O abuso verbal também acaba mudando o que pensamos e como nos sentimos sobre nós mesmos. Isso ocorre porque as conexões neurais estabelecidas em nosso cérebro dependem em grande parte de nossas experiências. E se essas experiências são marcadas por abuso verbal, é difícil escapar delas. Em outras palavras: se alguém nos faz sentir que somos inúteis, é provável que acabemos acreditando nisso.
Pesquisas sobre apego e maternidade confirmam o que todos sabemos intuitivamente: como seres humanos, nos sentimos melhor quando somos amados e seguros, o que significa, entre outras coisas, receber tratamento respeitoso.
Se você está sendo vítima de agressões verbais, é importante que você ponha um fim nisso. Parar a violência verbal é um ato de autodefesa e amor-próprio, porque, a longo prazo, essa situação acabará prejudicando profundamente sua autoestima e cobrará uma fatura muito alta de sua saúde.
Estabelece limites, linhas vermelhas que a outra pessoa não deve suprimir. Deixe claro que você não está disposto a suportar certos comportamentos.
Como algumas pessoas não estão totalmente cientes do impacto de suas palavras, um bom ponto de partida é perceber o quanto suas palavras e atitudes o prejudicam. Desta forma, você o tirará de sua posição egocêntrica e se colocará no seu lugar.
Você também pode ajudar a encontrar uma solução juntos. O abuso verbal pode ser a expressão do esgotamento psicológico, a incapacidade de adotar um estilo relacional mais assertivo ou mesmo o medo. No final, como disse o psicólogo Marshall Rosenberg: “Toda violência é resultado de pessoas que se enganam ao acreditar que sua dor é causada por outras pessoas, pensando, portanto, que merecem ser punidas”. O importante é que a pessoa reconheça que precisa de ajuda para lidar com conflitos e relações de uma maneira mais construtiva e enriquecedora.
Como último recurso, se essas estratégias não funcionam, porque nem sempre está em nossas mãos mudar o outro, sempre temos a opção de nos afastarmos daquela pessoa que está nos prejudicando.
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